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OPINIÃO: Perdi a mala, e agora? A

Perder a mala é um perrengue que vira história. Pense no desespero de perdê-la com o que usará no país que lhe convidou para ministrar conferências e curso?

Não achei que me aconteceria. Ainda bem que o santo protetor das mulheres viajantes estava comigo! Isto se deu no Marrocos. Voei até Milão, encontrei os colegas de pesquisa e fomos. Ao chegar, eu e um dos italianos vimos que nossas malas não estavam.

Me abalei quando o motorista marroquino falou que logo sairia. Não queria ficar para trás, pois no aeroporto só falavam árabe. Fomos de lá para cá e nada. Um funcionário tentou ajudar. Falava espanholado. Pediu para ver a passagem, me olhou assustado e disse: Pare aqui! Fez ligações e nada.

Outros se aglomeraram, gritaram, e ele me diz: Não se preocupe, você é brasileira e não vai perder nada. Veja, meus olhos estão abertos! Depois entendi que "meus olhos estão abertos" é um dito local que significa confie em mim. Aí veio um homem, falaram gritando.

Achei estranho, complicado, e o colega italiano não se acertou na comunicação. Saímos da cena, concordando em ir ao hotel e voltar depois. Voltamos oito vezes e nada. No dia seguinte, ele voltou para Milão dizendo que jamais pisaria no Marrocos.

Eu, 3 da manhã, mandei e-mail ao cônsul e ao embaixador do Brasil no país, à universidade de Milão, do Marrocos, e ao Itamarati pondo no assunto: brasileira desesperada no Marrocos, pois os remédios e o material de trabalho estavam na mala extraviada, e eu ameaçada no aeroporto. Confiei que agiriam ou não teria como trabalhar.

Não deu outra, em duas horas veio um do consulado. Me tranquilizou quanto a remédio e livro, e me desanimou quanto à mala.Depois veio o da embaixada e autoridades locais, para surpresa interrogativa do pessoal do hotel. Saí num carro oficial, fui a muitos setores com meus acompanhantes que não falavam e nada.

Desisti da empreitada e, no dia da conferência de abertura do evento, abatida, vestindo roupa marroquina e com projeção improvisada falei sobre Envelhecimento Humano Mundial. No ato fui saudada por um membro da igreja muçulmana, que disse conhecer Santa Maria, saber da Kiss, e que haviam rezado por nós. Aquilo me tocou muito.A vida se seguia sem a mala.

Os marroquinos bondosos e prestativos me acompanhavam no trabalho e nas visitas. Não teria motivo para estresse, mas queria minha mala. Num dia, depois do trabalho, cheguei ao hotel, e disseram-me para ir ao aeroporto. Lá, pararam-me diante duma porta, e disseram: entre, se encontrar sua mala pegue. Ufa! Coisa de cinema: um salão pleno de malas estragadas, abertas, rasgadas.

Encontrei a minha e voltei ao hotel. No Brasil, entrei na Justiça, fui ressarcida, compensei parte do desgaste e constrangimento. Escolada, agora só viajo com bagagem de mão. E você, já passou por uma destas?

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