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OPINIÃO: No templo de Kelaniya

Escrevo demasiadamente sobre o tempo, mas hoje não tenho tempo para tanto. Irei ao templo, com L.

É que li no jornal O Globo do dia 22 de março, folha 37, que em Minas Gerais foi lançado um cadastro sobre relatos de vidas passadas. Um estudo desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde - Nupes, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Nele se conta de uma menina de três anos, nascida em 1987, no Sri Lanka, que dizia ter sido, em outra encarnação, um homem que morreu atropelado quando seguia de bicicleta para o templo de Kelaniya, onde vendia incenso. Descobriu-se então que, de fato, lá continuava a trabalhar, também como vendedor de incenso, um irmão seu, e ele faleceu em 1985.

Li e um arrepio tomou conta de mim. O que passo a relatar é verdadeiro, não apenas uma expansão literária.

Janeiro de 1964. Eu caminhava por uma praça em Veneza, logo após o entardecer e, de repente, como se fosse levado por uma mão amiga, caminhei até uma pequena rua à esquerda da Torre dell'Orologio. Caminhei por ela retornando ao meu chão. Não consigo descrever o que vivi naqueles momentos, alguns minutos, durante os quais - até hoje penso, de verdade, que foi mesmo assim - retornei a velhos instantes do meu passado. Esses momentos, vividos há mais de 50 anos, de quando em quando me parecem ter acontecido ontem. Uma loucura? Um delírio? Não sei, realmente.

Esse episódio me fez sorrir, discretamente, quando alguns anos depois, em São Paulo, um amigo de meu pai contou-nos que com um grupo de pessoas próximas praticava, apenas como divertimento, exercícios de regressão de idade mediante hipnose. Até que um dia um deles, hipnotizado, pulou do relato da mais tenra infância para o antes! Começou a falar em língua estranha, desconhecida por todos que ali estavam, e nunca mais voltaram a brincar de hipnose.

Voltando a mim mesmo, relembro o dia em que, em um passeio de carro pela Normandia, um imenso amigo que já se foi, Reali Júnior, levou-nos a Honfleur, no final de dezembro de 2005. Ao passarmos pelo Vieux Bassin olhamo-nos, Tania e eu, nos dando conta de que estávamos a visitar nosso passado. Nada nos dissemos, mas três meses depois lá nos fomos, os dois, e ali nos instalamos, em um apartamento na rue du Daphin, do qual nos desfizemos - datas são formidáveis! - há pouquíssimos dias.

Jamais escrevi a respeito do nosso passado por lá, sem dúvida nenhuma por volta do Século 14 ou 15. Um conto meu publicado no A(s) mulher(es) que eu amo - O alucinado do Vieux Bassin- se passa em Honfleur, mas nada mais. De nós mesmos por lá somente agora estou a falar. Como se retornasse ao templo de Kelaniya...

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