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Conheça raridades do acervo histórico da Basílica Nossa Senhora Medianeira

Na busca por preservar um legado, a equipe do projeto de extensão Acervo da Basílica Nossa Senhora da Medianeira: organização e pesquisa tem se aventurado no mundo da museologia, entrando em contato com verdadeiras raridades.

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– A princípio, o item mais antigo que temos aqui é o estandarte de Nossa Senhora, que seria de aproximadamente 1930. Considerando o tempo, ele está em um estado de conservação razoável. Isso porque um têxtil, como é o caso da estandarte, se ficar na vertical, com o tempo, as costuras irão ceder e isso danifica (a peça). Então, esse é um olhar que precisamos ter no processo de acondicionamento para não exigir da costura deste objeto – conta a responsável pelo acervo, a professora de história e especialista em museografia e patrimônio cultural, Débora Duval Braga.

A peça inclusive fez parte da exposição realizada em abril deste ano na UFN. 

Item mais antigo do acervo, datado de 1930 e que aparece em registros da Festa da Medianeira. Foto: Arquivo histórico da Arquidiocese de Santa Maria e Assessoria de Comunicação da UFN

Outro item que foi levado pela Arquidiocese de Santa Maria para o evento foi a veste fúnebre do padre Ignácio Rafael Valle (1902-1982). O religioso é considerado um dos principais incentivadores da devoção à Nossa Senhora da Medianeira. Com a missão de atuar como professor e coordenador estudantil no Seminário São José, Valle chegou em Santa Maria em fevereiro de 1928, com apenas 26 anos. Um ano depois, a Diocese de Santa Maria recebeu o primeiro sinal no processo de reconhecimento à Medianeira de Todas as Graças: o Papa Pio XI concedeu autorização para a instituição realizar a Festa de Nossa Senhora da Medianeira, com missa própria em 31 de maio de 1930.

Valle também foi responsável pelo primeiro quadro de Nossa Senhora da Medianeira, pintado em 1930 por Ida Stefani (1911-2005), conhecida mais tarde como irmã Angelita. O religioso enviou um pequeno registro vindo da Bélgica para a jovem artista, que morava em uma cidade da região.

Padre Ignácio Rafael Valle morreu em 28 de maio de 1982, em Porto Alegre. O corpo de religioso foi exumado em 12 de novembro de 2005, quando os restos mortais foram transladados de um cemitério, em São Leopoldo, para a cripta da Basílica, em Santa Maria.

Para a mestre em História e especialista em Museologia, Roselâine Casanova Corrêa, que coordenou o projeto de extensão, o contato da equipe com a vestimenta foi um dos momentos emocionantes proporcionados pelo projeto de extensão.

– Higienizamos as vestes do padre Valle, colocamos sob a mesa e, depois, abrimos para acondicioná-la. Tiramos alguns ganchinhos de metal, que já estavam em processo de oxidação e podiam danificar o tecido. Tivemos que colocar uma manta de acrílico nas mangas para não enrugar. Foi um processo bem demorado e com várias etapas. Por mais incrível que pareça, ele foi enterrado com aquela veste e ela não tem nenhum furo. Olhar aquilo e pensar: “Nossa! Era do padre Valle, que estimulou essa devoção toda (à Medianeira)” é único. Nosso trabalho é técnico, mas também envolve emoções e isso independente de religião – afirma a especialista.

As representações de Nossa Senhora

O acervo da Basílica também é composto por imagens e estatuetas de Nossa Senhora em diferentes culturas e vindas de países como Argentina, Portugal, Uruguai, Alemanha, Paraguai, México, entre outros. Na exposição realizada em abril, as imagens de Nossa Senhora Desatadora de Nós, da Alemanha, e Nossa Senhora de Luján, da Argentina, chamaram a atenção dos fiéis. Inclusive, o último item foi um presente dado pelo bispo de Mercedes, Dom Luís Juan Tomé, à Basílica em 1977.

O ato de entregar uma imagem de Nossa Senhora da cultura local em visitas à Romaria também é uma tradição reconhecida pelo projeto de extensão “Acervo da Basílica Nossa Senhora da Medianeira: organização e pesquisa”. Entre as autoridades religiosas que já estiveram em solo santa-mariense, estão o cardeal patriarca de Veneza, Dom Albino Luciani, que tornou-se o Papa João Paulo I em 1978 e o cardeal patriarca de Lisboa, Dom António Ribeiro.

Estátua de Nossa Senhora de Fátima, trazida pelo cardeal de Lisboa, Dom António Ribeiro, participou da Romaria de 1987. Hoje, o item faz parte do acervo da Basílica.Foto: Beto Albert (Diário) e Divulgação

– Para presentear o Santuário, o Dom Albino Luciani trouxe o quadro da Nossa Senhora da Saúde, que ficou retido por um tempo na alfândega, mas logo depois veio para Santa Maria. Hoje, ele está na nossa Reserva Técnica (RT). Já o Dom António Ribeiro, em 1987, trouxe uma Nossa Senhora de Fátima, que também está na nossa RT – comenta Débora.

Foto: Arquivo Jornal A Razão

Os itens trazidos pelos religiosos chegaram a estampar capas e páginas do jornal A Razão. Em 11 de novembro de 1975, uma reportagem intitulada O cardeal veio, mas não trouxe a madonna foi publicada no jornal. No registro, consta que o cardeal patriarca de Veneza foi impedido pelo serviço de Proteção à Arte Italiana de trazer o quadro, que mede 135 cm de altura x 105 cm de largura. O percurso feito pelo presente também é destacado: 


A réplica da Madonna della Salute, presente aos imigrantes italianos que aqui chegaram em 1877, ficou no aeroporto de Veneza. Ontem (10/11/1975), foi informado que a réplica da santa já está na alfândega do Rio de Janeiro.


Quadro de Nossa Senhora da Saúde foi um presente do cardeal patriarca de Veneza, Dom Albino Luciani, em visita a Santa Maria em 1975. Três anos depois, ele se tornou Papa. Foto: Acervo da Basílica e acervo Jornal A Razão

Na edição de 10/11/1987 do jornal A Razão, a manchete era a caminhada feita pelo quadro da Mãe Peregrina e a imagem de Nossa Senhora de Fátima. A homenagem, que contou com a presença do cardeal patriarca de Lisboa, ocorreu na 44ª edição da Romaria. Naquele ano, o tema foi “70 anos de Fátima”, em alusão à aparição de Nossa Senhora a três crianças, em 1917, em Portugal.

Foto: Acervo Jornal A Razão


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