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OPINIÃO: Meu comovido carinho aos idosos do mundo

No meu tempo de infância - nos barrancos da Rua Silva Jardim - eu lembro bem que gostava de ficar no meio dos mais velhos. Ouvindo as histórias das amigas da minha querida avó Olina. Ou servindo chimarrão para meu avô Fredolino e seus amigos ferroviários. Homens encarquilhados. Experientes. Contando histórias mirabolantes de viagens de trem. Acidentes. Greves. Eu absorvia aquelas histórias mágicas em silêncio.

Anos mais tarde, ainda adolescente, tive dois empregos, no mundo dos mais velhos.

O saudoso amigo Edmundo Cardoso, teatrólogo e memorialista, cliente de meu pai (que era enfermeiro), era diretor do jornal A Razão. E sabedor que eu era um bom aluno de Português e Latim do Maneco, me ofereceu o cargo de revisor do jornal por algumas horas durante o dia. Na redação do jornal, convivi com todas as figuras importantes da época, muitas das quais colaboravam com artigos para o jornal. Dr. Amaury Lenz, Dr. Romeu Beltrão, Zózymo Lopes dos Santos, Prado Veppo, Chico Ribeiro, Gregório Coelho e uma centena de outras pessoas.

O outro emprego que tive na adolescência, exercido apenas aos domingos pela tarde, quando todos meus colegas de colégio descansavam, foi de vendedor de "poules" no Jockey Clube de Santa Maria. Eu era o responsável pelo guichê número 2, onde eram vendidos os bilhetes do cavalo número 2 de cada páreo que iria correr. Lembro que no guichê número 1, onde eram vendidos os bilhetes do cavalo favorito (de número 1), o vendedor responsável era o João Nascimento da Silva que, anos depois, foi vereador junto comigo em Santa Maria.

No Jockey Clube, convivi com centenas de pessoas mais velhas do que eu: tratadores e proprietários de cavalos, jóqueis, veterinários, apostadores, turfistas, jornalistas especializados. De todos eles, gravo a grata lembrança de meu saudoso amigo Dr. Armando Vallandro, médico veterinário, que anos depois seria reitor da UFSM. Com todos eles aprendi algo. Assim foi nos cursinhos Master, Riachuelo, Decisão. No Colégio Coração de Maria. Na UFSM. Na Fundação Zoobotânica do RS.

Na Agapan. Nos clubes, entidades, ONGs, igreja, TV, rádios, jornais. Em todos os locais que convivi - e ainda convivo - sempre procurei ouvir os mais velhos. Jamais me arrependi por isso. Dia 26 de outubro de 2018, eu farei 76 anos. Eu tenho a certeza absoluta de que já vivi mais de sete décadas. Que já aproveitei mais de meio século de vida. Logo, a velhice não é uma perda. A velhice não é algo digno de pena. A velhice é um lucro. Quando eu vejo um jovem desrespeitar um idoso, eu fico com pena. Ele lucrou apenas 15, 18, 20 anos.

Para atingir os meus 76 anos terá de viver mais meio século. Enfrentar mais de 50 anos de trânsito, doenças novas, acidentes de trabalho, percalços, problemas, estresse, etc... Conseguirá? Enquanto eu sou uma certeza. Esse jovem mal educado é uma mera ficção, uma promessa. Por isso, velhos do mundo: não se irritem com os meninos mal educados. Exerçam a misericórdia. Aliás, esta é outra característica da nossa turma da terceira idade: não somos mais movidos somente à paixão. Nós já passamos a exercer também a compaixão!

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