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OPINIÃO: Jogos da vida


Por volta de 1996, tivemos um bate-papo, Carlos Costabeber, padre Lauro Trevisan, Vilson Serro e eu; padre Lauro disse o seu bordão "a vida é uma festa", ao que retrucou o Serro, "não, padre, a vida é um jogo". Todos rimos e tomamos aquele retruque como se fora um chiste.

Agora, muitos anos depois, matutando cá com meus botões, sou levado a crer que Serro já antevia o cassino global, que é cada vez mais evidente, com a redução da vida a um jogo, na maioria das vezes viciado. As crianças já em tenra idade começam a ser preparadas para este jogo, iniciando muito cedo uma vida competitiva com agenda e perspectiva de adultos.

Não sei se foi o Oscar, o Mão Santa, quem disse, mas foi dele que ouvi que a diferença entre os brinquedos das crianças e dos adultos é apenas o preço.

Pois bem. Ao olhar para as crianças, quando estas estão nas suas brincadeiras, pensamos que elas estão se dedicando às coisas fúteis e pueris. Elas, as crianças, empenham-se em jogos cujos resultados em nada importam, mas levam a sério a disputa, querem ganhar e sentem-se orgulhosas em suplantar os adversários. Inventam histórias improváveis, nas quais assumem personagens fantásticos que enfrentam monstros terríveis. Nas suas fantasias, são super-heróis.

Os adultos, por sua vez, não são diferentes. Os jogos infantis são substituídos pelos negócios, que são encarados como o jogo Banco Imobiliário que crianças e adolescentes brincam, com a "pequena" diferença de que o dinheiro e os bens são reais. Nos jogos de bolita, nos meus tempos de guri, havia os jogos "as brinca", isto é, as apostas não eram para valer, e "às devas", quando o perdedor literalmente perdia as bolitas do bolso. A diferença entre as brincadeiras e jogos de crianças e dos adultos é que estes jogam "às devas". Interessa ganhar, a qualquer custo, menos para satisfazer as necessidades ou mesmo conquistar algum luxo, mas acima de tudo suplantar aos demais, ser visto e admirado como um nababo.

Só isso pode explicar a "fome" insaciável por bens e dinheiro. Explica, também, a idolatria pelo exercício do poder, demonstrado por boa gama de políticos, empresários, etc., que substituem a figura mítica dos super-heróis da infância, mas tão inverossímeis quanto.

Deve ter sido esse clima de cassino global que levou os assaltantes do erário público a se apropriar indevidamente de milhões de dólares e enviá-los para o Exterior, quantia que jamais poderia ser gasta no período de uma vida e talvez nem nas próximas gerações futuras. Só isto explica que alguém tivesse embolsado cem milhões de dólares e, mesmo assim, não resista "roubar apenas" um milhão à mais.

O diabo é que todos nós estamos dentro do cassino, apostando em caça- níqueis viciados. Ganham os donos da banca e os profissionais da roleta e do carteado graúdo.

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