opinião

OPINIÃO: Copa

Se você fosse ridicularizado mundialmente em redes sociais, acharia "molecagem"?

"Nada justifica o linchamento", diz Boris Casoy, referindo-se à repercussão negativa nas redes sociais e mídia no que tange ao fato de alguns torcedores brasileiros ofenderem uma mulher russa, fazendo-a repetir a palavra que faz alusão ao órgão sexual feminino, e ela, sem entender português, sorri e repete. Atitude imatura? Em outro vídeo um brasileiro pede a três russas que repitam que querem fazer sexo com eles (ele e os amigos), de maneira nada polida, e elas repetem. O que me admira o Sr. Boris Casoy, um formador de opinião, dizer em alto e bom som que tudo isso não passa de "molecagem", "não é crime".

Primeiro, ele está errado; segundo, a jurista e ativista russa Alyona Popova afirmou que a conduta dos brasileiros poderia ser enquadrada em diversos tipos de crimes sim, então não vamos discutir a legislação deles. Terceiro, esse tipo de comportamento de um e de outro apenas serve para perpetuar uma cultura machista e de desrespeito com a mulher. Quando vemos homens adultos com comportamento desrespeitoso, sexista, inútil, com que moral podemos cobrar dos políticos atitudes diferentes, ou seja, de respeito, de ética e de "utilidade"?

Banalizar, naturalizar comportamentos ofensivos e de objetificação da mulher, estamos, sim, fomentando a violência contra a mulher; quando se toma a mulher como objeto, como coisa, "coisa" não merece respeito, não como ser humano que é, com todos os direitos fundamentais que lhes são inerentes, está-se colaborando para que os índices de violência de gênero e contra mulheres não caiam em nosso país, em nosso Estado.

Para não falarmos mal somente do comportamento de alguns brasileiros e para, infelizmente, constatarmos que o desrespeito em relação às mulheres é cultural, atravessa fronteiras, tomamos outro caso, o da repórter brasileira Júlia Guimaraes. Ela sofreu assédio explícito quando um russo tentou beijá-la, momentos antes da gravação de uma reportagem. Júlia disse: "eu queria entender por que a pessoa acha que tem direito de fazer isso?" A pessoa não tem direito, simples assim, não precisamos tentar entender.

Ainda, por falar em respeito ou falta de, a Rússia também não respeita suas mulheres. Em janeiro de 2017, aprovou lei que permite que o marido bata na mulher e nos filhos uma vez por ano, além disso, a mulher poderá denunciar; inacreditável.

Não podemos achar normal o desrespeito com as mulheres, e acredito que a mudança tem que começar agora, hoje, na Copa, no samba, no funk, nas músicas gaúchas, nas rodas de conversa de bar, nas novelas, nas propagadas, nos comentários na televisão, para que nossas filhas, irmãs, namoradas, mães, tias, vizinhas, sobrinhas, netas, não tenham seus direitos violados, sejam respeitadas como mulheres e como seres humanos, em toda plenitude dos direitos que assistem a todos, homens e mulheres. Por fim, acho que o Sr. Boris Casoy perdeu a oportunidade de ficar calado.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

OPINIÃO: Copa Anterior

OPINIÃO: Copa

OPINIÃO: No tempo em que se usava 'com licença' e 'muito obrigado' Próximo

OPINIÃO: No tempo em que se usava 'com licença' e 'muito obrigado'

Colunistas do Impresso