Todos temos nossas necessidades (desejos) guiadas e modeladas por regras que não estão escritas e que, na maioria das vezes, desconhecemos suas origens e sequer temos consciência do poder que estas regras exercem sobre nós. O marketing e a propaganda são responsáveis pela nossa crescente necessidade consumista, o desejo de uma roupa nova, enquanto outra não foi ainda usada, o sonho com um carro ou celular de última geração, quando ainda não aprendemos a lidar com os recursos daquele que dispomos. Mas não é só no campo do consumo que isso se verifica.
Também no campo dos costumes ou da moral é comum adotarmos comportamentos que adquirimos sabe-se lá como. São sutis imposições do meio em que se vive, que vão aderindo ao nosso modo de ver e entender o mundo e, com o passar do tempo, adotamos esses comportamentos como se fossem frutos de nós próprios e, encontrando similitude nos que nos cercam, tomamos aquilo como verdade geral e esperamos que todas as pessoas razoáveis concordem com aquilo que temos como certo.
Provavelmente não exista alguém que possa afirmar que não seja influenciável. Inclusive, porque esta influência se dá no nível inconsciente e, embora hoje se dê em maior extensão, graças aos meios de comunicação, o ser humano, ao longo da história, sempre foi mais ou menos susceptível às influências externas. Atualmente, as técnicas de persuasão estão cada vez mais aprimoradas e estão comprometendo seriamente o que se entende por opinião pública e, por consequência, a democracia. Se a democracia é a decisão da maioria, quando esta maioria passa a ser manipulada por uma minoria que tem os meios para isso (controle da mídia, inclusa a internet), a maioria deixa de ser a soma das vontades individuais para ser o resultado da vontade de poucos, ardilosamente imposta a muitos.
Mal comparando, seria como o doping no esporte. As técnicas de persuasão do marketing e propaganda atuam como um doping na opinião pública, que resulta viciada. Assim, se não desenvolver capacidade crítica, a sociedade estará fadada a dizer, comprar, usar, comer, beber e votar conforme a vontade do Grande Irmão retratado por George Orwell em seu romance "1984", lançado no ano de 1949. Não são somente todos nossos dados, gostos, preferências, quanto e no que gastamos, lugares que frequentamos, opiniões que externamos que são apropriadas por empresas, que utilizam esses dados para estudar nossas fraquezas e, em contrapartida, impor suas vontades, que, docilmente, obedecemos porque imaginamos que são nossas, fruto de nossa liberdade individual. A democracia está doente. Só o espírito crítico poderá salvá-la. A situação, tal como se apresenta, nos levará à uma ditadura alicerçada sobre uma democracia viciada ou para uma propriamente dita.