Todos os dias, dezenas de pessoas de todas as etnias, idades e classes sociais entram no Santuário Basílica da Medianeira para ter um momento com Nossa Senhora. Entre pedidos e agradecimentos, surgem histórias de fé, superação e até mesmo milagres que fortalecem o legado da Rainha do Povo Gaúcho.
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No local, também encontram-se outras Medianeiras, que, além do nome, carregam uma mensagem de fé, esperança e gratidão.
“Marcela Medianeira é um milagre da fé”
Sentada em frente ao quadro de Nossa Senhora da Medianeira na Basílica, a santa-mariense Camila da Silva de Oliveira, 34, agradece por todas as conquistas. Uma delas é a saúde da filha do meio, Marcela, de apenas 12 anos. Em maio de 2012, Camila descobriu que estava grávida de uma menina. Mas o que era para ser um período de pura alegria durou pouco.
– Foi uma gravidez de risco, porque meu fator RH é negativo. O meu sangue causava complicações a ela, atacava-a como se fosse uma doença. Então, foi uma gestação bem conturbada – comenta a estudante de Técnico em Enfermagem.
Prematura, Marcela Medianeira nasceu no dia 24 de setembro de 2012, no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). As lembranças do bebê, que pesava cerca de 2 kg, emocionam Camila. Após o nascimento, uma nova luta pela vida da filha foi travada. Ainda no bloco cirúrgico, Marcela apresentou dificuldades para respirar, e os médicos tiveram que reanimá-la. Para Camila, foi neste momento que a fé falou mais alto:
– Quando eu fui ganhá-la, ela não tinha nenhum nome. O pai dela é Marcelo e então, na hora, pensamos em Marcela. Os médicos levaram ela para a UTI e ali, eu disse: “eu tenho quem possa ajudar. É a Medianeira”. Nós oramos juntos. A Marcela ficou 32 dias internada. Prometemos que se ela saísse de lá, iríamos para a igreja agradecer e o nome dela seria Medianeira.
Em 1º de novembro, ela deu alta do Husm, e eu levei ela direto para a igreja. Desde então, a Romaria Estadual da Medianeira é um dos eventos mais esperados pela família. Nos últimos anos, mais do que agradecer, a procissão tem sido um momento de comemoração ao lado de Marcela e dos outros dois filhos, Davi, 13, e Mathias Damião, de apenas 4 anos.
– A Mãe Medianeira, que intercedeu pela nossa cidade, faz milhões de milagres todos os dias e nós nem vemos. A minha Marcela Medianeira é um desses milagres. Eu só tenho a agradecer. Vou agradecer eternamente a Nossa Senhora por ter ouvido as minhas preces – conclui Camila.
Ao ouvir a mãe contar a história, Marcela Medianeira se emociona. A menina de olhar doce, cabelos compridos e sorriso meigo se orgulha do nome dado pelos pais.
– Quando estou sozinha, sinto que meu nome me dá segurança, ela (Nossa Senhora) sempre pode estar comigo e com a minha mãe – afirma a menina de 12 anos, que sonha em ser médica ou policial.
“Recebi o nome de Maria Medianeira como promessa de minha mãe”
Trabalhar com fatos e registros que ajudam a construir narrativas é a principal missão da doutora em História e professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Maria Medianeira Padoin, 61. O que muitos não sabem é que a profissional também faz parte de um legado. O nome Maria Medianeira foi dado em agradecimento a uma graça alcançada por Luiza Maria Rigão Padoin e Airton Pedro Padoin, hoje com 84 anos.
Em 3 de julho de 1963, Maria Medianeira nasceu no Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, na época Hospital de Caridade. Ainda na instituição, a recém-nascida apresentou uma série de dificuldades respiratórias e alimentares, que levaram a família a pedir a intercessão de Nossa Senhora da Medianeira.
– Eu nasci com 8 meses, e a minha mãe teve um parto muito difícil. Na época, eles chamavam de parto a vácuo. Além disso, eu nasci com parte da estrutura dentro da garganta como se fosse de adulto, por isso, não conseguia respirar nem me alimentar. Fiquei naquelas incubadoras da época, com aparelhos para poder respirar. Meus pais ficaram muito preocupados, porque eles não sabiam se eu iria continuar viva. Então, junto com meus avós paternos e maternos, a minha mãe, que é muito devota, resolveu colocar o meu nome de Maria Medianeira. Nesse primeiro momento, eu fui batizada no hospital com a intenção de que eu pudesse sobreviver. Os meus pais também prometeram rezar o terço durante a vida toda deles, em forma de agradecimento por isso. Depois do batizado, eu comecei a reagir mais e a respirar. Os médicos tiram os aparelhos e eu respirei sem eles. Eu sobrevivi – conta.
Ainda na infância, Maria Medianeira passou por um procedimento, que a possibilitou crescer com saúde e mais tempo ao lado da família, que tem tradições ligadas a Romaria Estadual da Medianeira.
– Para as romarias, lembro que meu avô engordava uma vaca. Já a minha avó fazia aqueles bolos decorados, sempre da festa da Medianeira. Naquela época, os padres da Medianeira na cidade tinham uma convivência muito próxima com a comunidade, de ir nas casas ao domingo e almoçar. Então, tenho essa lembrança. Sempre tivemos essa tradição de ajudar na romaria – afirma a professora.
Com um nome que atrai devotos e curiosos, Maria Medianeira deseja continuar honrando a ajuda que lhe foi dada:
– A minha história reflete uma família que sempre procurou preservar os valores de fé e da boa convivência. É também de uma mulher que estudou e trabalha, mas que sempre terá como sustento a fé e o amor da família.
“Eu tenho uma relação muito boa com Medianeira”
A fé da empresária Fabiana Medianeira Silveira Vasconcelos, 43 anos, em Nossa Senhora da Medianeira foi transmitida pela mãe, Eva Silveira da Silva (in memorian), que dedicou a vida a divulgar as graças concedidas pela Rainha do Povo Gaúcho. Foi a Mãe Medianeira quem garantiu que Eva e Fabiana se encontrassem pela primeira vez.
– Quando a minha mãe foi para o hospital para eu nascer, ela levou uma imagem de Nossa Senhora. Durante o trabalho de parto, ela teve uma hemorragia e ficou muito mal. Com a imagem debaixo do travesseiro, ela pediu que a santa salvasse ela e, em gratidão, colocaria o nome de Medianeira. Ela estava bem ruim, mas, na hora, começou a melhorar – afirma a empresária.
Fabiana nasceu em 20 de março de 1981, no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). Um ano depois, Eva levou a filha à primeira Romaria Estadual da Medianeira. Quando adulta, Fabiana deu continuidade a tradição. Ao lado do marido, o empresário Adelson Sobrera da Silva, 52, passou a levar os filhos Gabriel, 20; Rafael, 17 e Nathan, 5, ao evento.
– Sempre que pedimos, Medianeira nos atende. O Gabriel, meu primeiro filho, teve problemas de saúde quando nasceu e pagamos promessa levando uma vela acesa do tamanho dele. Então, eu tenho uma relação muito boa com Medianeira. Antes da minha mãe falecer, pediu que fizéssemos a missa de 7º dia dela lá na Basílica e fizemos.
Eva faleceu em 9 de setembro de 2024, aos 77 anos. Segundo Fabiana, a mãe tinha Doença de Parkinson e conviveu com o quadro por mais de 20 anos. Por esses e outros motivos, ela se orgulha do nome que recebeu ainda no nascimento.
– Para mim, ter o nome de Medianeira é um símbolo de esperança e fé inabaláveis. Essa fé move montanhas e cura. A minha mãe tinha muita fé na Medianeira e viveu todo esse tempo com a doença por conta dessa fé. Nós acreditamos muito nisso.
“Eu tenho orgulho do meu nome. Sempre tive. Sou abençoada”
Em um altar improvisado em casa, Marcia Medianeira Silveira, 59 anos, faz uma oração para Nossa Senhora da Medianeira, em quem confia há muitos anos. A primeira intercessão da Nossa Senhora em sua vida ocorreu durante o nascimento. A mãe de Marcia, Maria de Lourdes Silveira (in memorian), teve complicações durante o parto e precisou ser internada antes do previsto.
– Eu nasci faltando 15 dias para fechar 9 meses. A mãe contava que quando estava no leito, ela disse: “se sobreviver e for uma menina, vai ser Medianeira o nome”. Na época, não tinha como saber o sexo do bebê. Então, quando ela soube, colocou o nome de Marcia Medianeira.
Marcia nasceu no dia 21 de fevereiro de 1965, no Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, na época Hospital de Caridade. Ao longo dos anos, a santa-mariense tem sentido cada vez mais a presença da santa, que é considerada uma segunda mãe.
– Tenho muita fé nela (Nossa Senhora). Tudo que eu peço, sou atendida. Eu tenho a imagem dela aqui na minha sala, no quarto e em tudo que é parte da casa. Eu tenho muita fé e vários milagres. Quando eu tinha 8 ou 9 anos, eu caí e perdi a visão. Na época, minha mãe me levou lá na romaria e, com a ajuda de um brigadiano, ergueram-me até o quadro de Medianeira. Passei a mão nos olhos dela e nos meus. Pouco tempo depois, eu voltei a enxergar. Então, para mim, ela é tudo de bom – afirma a devota.
Perante as lembranças da mãe e dos momentos de fé, Marcia Medianeira se emociona. Fazer parte da vida dos filhos Francieli, 38; Iago, 27 e Lucas, 25 e acompanhar o crescimento dos netos Vinicius, 22; Pedro Henrique, 16; Bianca, 6 e do bisneto Mathias, de apenas 3 anos, tem sido um dos maiores pedidos atendidos pela Rainha do Povo Gaúcho.
– Eu tenho orgulho do meu nome. Sempre tive. Acho que eu sou muito abençoada. Já tive dois AVCs (Acidente Vascular Cerebral) e tenho um filho autista que depende de mim. Estou sempre em pé. Por mais que tentem me derrubar, Nossa Senhora sempre me levanta – afirma Marcia.