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OPINIÃO: Saco de gatos

A presunção de inocência há muito deu espaço à presunção de culpa na vida do brasileiro. A desconfiança mútua impera na realidade nacional, ao ponto de, até prova em contrário, todo o desconhecido, ou mesmo o conhecido, consistir em um suposto ou potencial perigo, portador de interesses ocultos e escusos.

A boa-fé, por sua vez, é, no contexto em tela, vulnerabilidade, tolice. Projetadas tais sensações ao ambiente político e eleitoral, em qualquer de suas instâncias, os temores a que me referi alcançam teores absolutos, inquestionáveis e, mais que presumíveis, naturalmente concretos.

Por óbvio, a noção como retratada neste ensaio (que para mim é relato, não interpretação, mas...) é causadora da ojeriza aos processos eletivos, sobremaneira este que vem aí. Se aos cidadãos aqui na planície se mostra dificílimo conviver diuturnamente com a desconfiança depositada, ou mesmo sucumbida, já pararam para mensurar o quão custoso, e penoso, deve ser aos que, no exercício de boas intenções se submetem ao juízo social pejorativo que referi? Ora, antigo ou novo agente componente do quadro dos que se candidatam aos cargos em disputa, por si e pela própria candidatura, já passam a imediatamente contar com o descrédito da população a respeito de suas índoles. Os primeiros, ainda que inocentes no que refere ao rol de todo o mal imaginado pela sociedade.

Os segundos, coitados, nem conhecidos são, mas ao serem apresentados já largam com a pecha de projetos de sem-vergonhas. Para agravar ainda mais a situação de quem será responsável pelos futuros de todos, levando em conta que, obrigatoriamente, sairão do grupo de pessoas de quem todos desconfiam os mandatários responsáveis por tal, as chances de apresentação ou explicação minguam a cada pleito, cada eleição. Notem, meus amigos, que as portas das casas se fecham às visitas, os rostos se acarrancam aos cumprimentos pessoais e os ouvidos ensurdecem aos argumentos dos coitados dos candidatos.

Até a oferta do tradicional e em priscas eras simpático "santinho", hoje, é considerada afronta ao incauto cidadão. O exíguo tempo da televisão, caríssimo, diga-se, não é digno da atenção da população, que quando não maldiz, ri dos que ali se mostram. As entrevistas então, que em tese serviriam para o aprofundamento de temas e perspectivas, se resumem ao pouco tempo que sobra a quem responde, quando pode fazê-lo, pois quem pergunta fala mais, demais, invariavelmente. Não há como negar ser penosa a trajetória de quem ainda carrega consigo algum senso de responsabilidade ao ponto de tentar ver de perto e enxergar com nitidez e maturidade a melhor forma de votar. No entanto, convenhamos: quem está na condição de candidato também é vitimado por acidentados percursos e caminhos hostis. E isso nem sempre é justo.

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