O outono

Particularmente, sou apaixonada pelo verão, pois acho que nessa estação as pessoas ficam mais bonitas, mais alegres e com mais vida. Há mais interação entre as pessoas. Há mais interação das pessoas com a natureza. Mas chegou a hora do verão ir embora, pois o outono bate à nossa porta.

Aos poucos, vão acabando os dias de calor intenso. Vai chegando aquela chuvinha persistente, resfriando aos poucos os dias com tardes mais curtas, noites mais longas e silenciosas.

Logo no seu início, o outono nos presenteia com paisagens em tons de amarelo, laranja e marrom e com belo entardecer, o que para os fotógrafos é a garantia de uma foto de expressão romântica.

Conforme a estação vai avançando, as árvores começam a perder suas folhas, perda necessária para garantir a sobrevivência na próxima estação. Se as folhas não caíssem, seriam queimadas com o frio do inverno e, assim, os ciclos de respiração das árvores se findariam bruscamente, o que resultaria no fim da vida.

O outono é, também, a estação de amadurecimento dos frutos. É a estação em que a natureza nos mostra a beleza de sua sabedoria, de que é preciso deixar ir o que não serve mais, para proteger o que é mais importante. O que, em princípio, pode parecer uma perda é, na verdade, um ganho. As árvores com a perda das folhas ganham mais tempo de vida e chegam renovadas às próximas estações.

Então, podemos dizer que o outono é um período de introspecção, de preparo, de fortalecimento e de transição para a renovação. É o tempo de deixar ir o que não é essencial, inclusive para que novas forças possam gestar novos projetos.

Martha Medeiros, em seu poema A Vida e as Estações diz que: "... A maturidade é como o outono. Um longo e instável outono, que alterna dias quentes e frios, que nos emociona e nos gripa. Há mais beleza e o ar é mais seco, porém é quando se colhem os melhores abraços. Ficar sozinho passa a não ser tão aterrorizante. Fugimos para a praia, fugimos para a Serra, as ideias aprendem a se movimentar, a fazer a mala rápido, a trocar a rota se o desejo se impuser e não é preciso consultar o pai e a mãe antes de errar. É o outono que tentamos conservar..."

A chegada do outono traz com ele a Páscoa, que também é uma data de reflexão e recomeço. Que nesses períodos de introspecção possamos perder nossas folhas para fortalecer nossas raízes para darmos bons frutos e vivermos as próximas estações com mais confiança, renovando nossas expectativas e ações na busca de um mundo mais justo, fraterno e igualitário.