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O centenário de Brizola

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Se vivo fosse, Leonel Brizola teria completado 100 anos em 22 de janeiro passado. Faleceu em 21 de junho de 2004, numa segunda-feira à noite, no Rio de Janeiro. Sofreu um enfarto aos 82 anos de idade. Ele era o "nosso caudilho" - expressão que não uso de forma negativa e sim positiva, como aquele que se assume como chefe. Tinha até fazenda no Uruguai, como manda o figurino de todo bom caudilho.

Brizola tinha uma personalidade forte que seus adversários classificavam como autoritária. Não era de recusar uma boa briga e nunca deixou ninguém sem resposta. Tinha uma característica que está em fase de extinção nos políticos atuais: falava sempre o que pensava, doesse a quem doesse. No governo gaúcho, desapropriou empresas estrangeiras e, quando governou o RJ, entrou em choque com a principal rede de televisão do país (Globo). Nunca foi envolvido em casos de corrupção.

De origem pobre, Brizola engraxava sapatos em Porto Alegre antes de se formar em engenharia pela UFRGS. Como herdeiro do trabalhismo de Getúlio Vargas e Alberto Pasqualini, elegeu-se governador do RS. Por alguma razão resolveu morar no Rio de Janeiro, onde também se elegeu governador e deputado federal. Talvez porque ficasse mais perto de Brasília, pois nunca escondeu seu desejo de chegar à presidência. Tentou uma vez e não deu. Engoliu até um "sapo barbudo" (aceitou ser vice de Lula) e também não deu. Resignou-se e não voltou a concorrer.

Brizola transformou-se em personagem dos livros de história do Brasil em um episódio que tem semelhança com o que aconteceu no Chile, quando Allende foi morto, após o palácio de La Moneda, onde se refugiou, ter sido cercado e invadido pelos militares comandados pelo general Pinochet. Brizola resistiu sozinho em Porto Alegre ao golpe militar em 1961, que queria impedir a posse de João Goulart (Jango), seu cunhado e vice de Jânio Quadros, que havia renunciado após apenas quatro meses de governo. Do Palácio Piratini, e com o apoio do 3º exército, Brizola chefiou uma cadeia de rádio que foi chamada de "Campanha da Legalidade".

O golpe não saiu, mas Jango teve que aceitar a diminuição de seus poderes com a implantação do parlamentarismo, tendo Tancredo Neves, um político moderado e conciliador, como chefe de governo. Com o retorno do regime presidencialista, um ano depois, Jango assumiria, com plenos poderes, a presidência da República. Após o fracasso do movimento das "Diretas Já", Tancredo voltaria a exercer o seu papel moderador na transição da ditadura militar para a democracia, ao ser escolhido indiretamente (pelo Congresso) para exercer a presidência (o que não aconteceu, devido ao seu falecimento).

Parafraseando Marx, "a história se repete duas vezes, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa".

Brizola sempre será lembrado por priorizar a educação - não como discurso, como faz a maioria dos políticos, mas na prática. Quando governou o RS criou centenas de escolas de ensino fundamental e médio, atingindo até mesmo os munícipios gaúchos mais distantes. No Rio de Janeiro, junto com Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, criou escolas de tempo integral (os CIEPS), uma nova prática de acolher as crianças durante o dia, fornecendo-lhes estudo, alimentação e cuidados médicos.

Brizola, pelo menos em certo momento da vida, acreditou na luta armada. Um ponto controvertido de sua biografia diz respeito ao dinheiro que teria recebido de Fidel Castro, quando no exílio, para organizar a guerrilha. Uma versão, diz que ele teria devolvido o dinheiro, quando percebeu que esse caminho era inviável para o Brasil. Outra, o acusa o de ter ficado com o dinheiro.

Desde a morte de Brizola, não apareceu nenhum político capaz de ocupar o seu lugar na política brasileira. Ele era o nosso adorável caudilho.

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