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Noé: do dilúvio às queimadas

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Conta a história que Noé recebeu a incumbência de construir uma arca para escapar da destruição do mundo. Deus percebeu que a maioria das pessoas não tinha bom coração. Para cortar o mal pela raiz, Ele mandou um dilúvio. Noé por ser um homem bom, foi o escolhido. A ordem foi levar a sua família e mais um casal de cada espécie.

Estudos afirmam que a arca poderia transportar 70 mil animais, um número aquém da biodiversidade existente. A chuva durou 40 dias e encobriu até as montanhas mais altas. Demorou 370 dias para a terra secar e permitir o desembarque.

Independente da verdade e das interpretações religiosas, a arca representou salvação a milhares de animais. A história mostra o eterno conflito entre o bem e mal, e o bom e o mau, ainda presentes na humanidade. No Brasil, passamos da água ao fogo sem poupar nada e ninguém. O fogo na Amazônia, no Pantanal, no Cerrado, na Mata Atlântica e outro biomas devora tudo por onde passa. É fruto da maldade humana com a conivência das autoridades.

As queimadas e o desmatamento criminosos estão destruindo valiosos patrimônios naturais. O país arde em chamas as quais extinguem a maior biodiversidade do planeta. A ferocidade do fogo agravada pelas altas temperaturas, baixa umidade e pela impunidade causam a maior destruição dos últimos tempos. Cadê Noé e sua arca? Onde estão para salvar o ambiente e os animais dos homens maus que, inescrupulosamente, incentivam a destruição travestida de desenvolvimento e, ainda culpam vítimas, os povos originários? Homens cruéis que guardam leis nas gavetas, desarticulam a fiscalização, desqualificam a ciência, invertem dados, maquiam, mentem e, por incrível que pareça, os transformam em verdades explicadas por teorias conspiratórias fantasiosas e alucinantes.

Não bastasse a pandemia que ceifou a vida de quase 150 mil brasileiros, a negação e a impunidade condenam à fome e à morte, animais que desatinados buscam a salvação. O solo pobre, os corpos hídricos secos ou contaminados condenam ribeirinhos, indígenas, quilombolas a abandonarem aldeias, roçados, arrasando histórias, culturas e sonhos. Nas queimadas, os avisos, ao contrário da construção da arca, foram ignorados por quem deveria mobilizar forças de ação. Poderiam ter sido evitadas a destruição do ambiente e a dizimação de espécies simbólicas como araras, tuiuiús, onças, tamanduás, tartarugas, jacarés e tantos outros.

Noé chegou tarde à Amazônia, ao Pantanal, ao Cerrado, à Mata Atlântica. Estão virando cinzas. Noé, propositalmente, não foi chamado para escolher um casal de bichos para poupá-los da extinção. Porém, a força do bem tem reunido um batalhão de Noés, homens e mulheres bons que, heroicamente, apagam o fogo que ressurge como maldição do boitatá. Resgatam animais queimados e buscam, em luta contra o tempo, o calor e as dificuldade, tratar e salvar o que sobra da ação criminosa dos homens maus movidos pela ganância.

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