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Liberdade II

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Sei que vida sem liberdade não é vida, é mera existência. Sei também que seu alcance foi custoso, difícil, sangrento, sofrido...

O conceito, tão presente para nós, que até desvalorizado por ter se tornado valor abundante, passível, por isso, de pródigo uso e emprego.

Não... Não a quero tolher, em absoluto. Quero, em verdade, suscitar sua utilização de modo racional para que, com efeito, não seja ela ameaçada de extinção por seu esgotamento, assim como um recurso natural ou material que, de tanto gasto, ora ou outra, falta.

Ela, a liberdade, poderia ser economizada, digamos assim, quando de seu lançamento a propósito de opiniões sobre questões religiosas, por exemplo.

Ora, se é sabido que a liberdade de um termina quando passa a invadir a liberdade do outro, e que, pela lógica já histórica do que ocorre mundo afora quando esta ou aquela religião já propalara a todos que não admite caricaturas tendo por objeto sua maior Entidade, não é momento de ser chamado o tal do respeito diante de quem possa sentir-se ofendido, logo naquilo precípuo a um sem número, senão à maioria dos habitantes do planeta, que é sua relação com a divindade?

Mais, racionais que somos, ou buscamos ser, não é de se reconhecer abuso da liberdade a opinião ou ato sabidamente ofensivo e que, ali adiante, redundará no ceifamento de vidas, muitas ou poucas, por revoltados, ainda que desproporcionalmente, mas perigosamente revoltados?

Uns hão de vir arguir que a liberdade não tem preço, e que qualquer sacrifício vale a sua defesa, manutenção e exercício.

Mas, com absoluta convicção, tenho certeza que nenhum destes uns será encontrado entre amigos e parentes do professor decapitado, ou entre os filhos da mãe brasileira esfaqueada, agora enlutados irremediavelmente pela consabida relação de causa e consequência que, quem sabe, a falta de dosimetria no exercício da liberdade tenha ensejado.

Não se pode, responsavelmente, ser livre para tanto e para tudo ao custo de tragédias sabidamente vindouras, mesmo que para outrem, terceiros, que, quem sabe, morrem sem jamais ter blasfemado ou ofendido a quem quer que seja. E isto, penso eu, tem de ser um fator delimitador, ou mitigador da liberdade. Não extintivo.

A mim preocupa, e muito, a intransigência em qualquer instância ou perspectiva, Inclua aí, meu amigo, minha amiga, intransigentes em razão da possibilidade de limitações do ato de ser livre.

Calma lá! Vivemos em coletividade, e sabemos, não há como dizer o contrário, que o tido por inofensivo para os ocidentais cairá como uma bomba nos mais íntimos e fundamentais sentimentos dos que professam ou cultuam a uma religião.

Há momentos em que, tristemente, se necessita repetir o óbvio: são vidas em jogo.

Mais óbvio ainda, mas não menos necessário: mesmo que poucas, cada uma e todas elas, importam, e muito, ao menos para alguém que agora chora um saudade inimaginável.

Este é um fato inegável que, para mim, deve ser sopesado nesta suscitação que trago, pelo cuidado com a liberdade. Sou livre, e assim me senti, para ousar a reflexão.

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