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Jovem para sempre

data-filename="retriever" style="width: 100%;">"Que Deus te abençoe e te proteja sempre/Que todos os seus desejos se realizem/Que você possa ser sempre útil aos outros/E permitir que os outros o sejam para você/Que você consiga construir uma escada até as estrelas/E galgar cada degrau/Que você possa permanecer para sempre jovem" (trecho da música Forever Young, de Bob Dylan)

Faleceu, de câncer, no último dia 28 de abril, na cidade de São Pedro do Sul (próxima de Santa Maria), o economista Cláudio Einloft. Formado em Ciências Econômicas (1971) e Direito (1989) pela UFRGS, Cláudio teve uma longa trajetória como economista e professor universitário. Em 1973, após ter sido aprovado em 1º lugar em concurso público para a Secretaria de Planejamento do Estado do RS, foi cedido para a Fundação de Economia e Estatística (FEE), onde permaneceu até 1991. Nesse ano, prestou concurso para docente e transferiu-se para a UFSM, instituição em que trabalhou até a sua aposentadoria, em 2009.

Einloft fez parte de um grupo de economistas pioneiros na história da FEE, instituição que foi criada para fazer o planejamento estadual. Com o afrouxamento gradativo da ditadura militar, após o êxito do "Milagre Econômico" e a abertura "lenta, gradual e segura", do governo Geisel, a FEE passou a formar quadros capacitados de economistas que, inclusive, dividiram o seu tempo entre a FEE e as universidades. Não por acaso, Cláudio deu aulas na PUC e na Unisinos, entre 1976 e 1991.

Participando desse grupo de desbravadores, Einloft fez um curso de especialização em planejamento na Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), que, na época, se projetava como uma instituição crítica do capitalismo, sob a ótica da teoria do subdesenvolvimento. A Cepal teve influência também entre os economistas da Unicamp Acredito que esse curso tenha sido muito útil na função que Einloft desempenhou na FEE, como coordenador do setor secundário, da gerência de análises estruturais da FEE, responsável pelo clássico estudo "25 anos da economia gaúcha". Também participou da criação da revista científica "ensaios FEE", uma das mais respeitadas do país.

Einloft era fluente em alemão e inglês, e não menos conhecedor da língua portuguesa. Chegou a fazer um curso de um ano (1974) nos Estados Unidos, de onde trouxe debaixo do braço um diploma de mestrado. Para aqueles que o conheceram mais de perto, como eu, a sua produção científica não faz jus a sua enorme capacidade intelectual. Por obra do destino, acabou desviando-se da atividade acadêmica, visto que, sendo filho único, coube a ele assumir a atividade agropecuária deixada pelos pais falecidos.

Minha relação pessoal com o Cláudio, vem desde que foi meu professor, na Unisinos, passando pela FEE onde trabalhei, até chegar na UFSM. Vim para Santa Maria, vindo de Porto Alegre também, um pouco antes dele (em 1985). Voltando do doutorado, foi com enorme satisfação que reencontrei ele no departamento de CE da UFSM. Mas, logo depois, assumi a Pró-Reitoria de Planejamento e nos separamos novamente. Quando criei o curso de Ciências Econômicas numa instituição particular (Unifra, hoje UFN) convidei-o para trabalhar comigo, mas ele teve problemas com o reconhecimento do tempo de aposentadoria e não pode ir.

A lembrança que guardo do Cláudio é a de um economista muito preparado, uma espécie de "pássaro raro", como se referiu Keynes, "capaz de alçar voo em várias direções". Para ele, nenhuma resposta era dada sem uma reflexão demorada. Ministrou aulas para várias gerações de economistas e tinha o reconhecimento dos alunos. Ninguém conhecia Kalecki (autor polonês, marxista, de teoria semelhante à de Keynes) mais do que ele. No pensamento econômico, preferia os autores clássicos e marxistas aos neoclássicos.

Fisicamente, Cláudio aparentava ter uma idade menor do que a verdadeira. Fã de Bob Dylan, ele desejava permanecer para sempre jovem. Embora sonho impossível, essa é a imagem que sempre ficará associada à memória de todos aqueles que o conheceram.

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