colunista do impresso

Homo mobilis

style="width: 100%;" data-filename="retriever">

O salto tecnológico deste início do século XXI tem levado a espécie humana a imaginar-se o próprio Deus e a sonhar, num futuro não muito distante, com a imortalidade. O Homo Sapiens está em vias de transformar-se em Homo Deus? O historiador israelense Yuval Harari teve a feliz ideia de escrever dois livros (com esses títulos) em que aborda essa questão como um processo evolutivo lógico da humanidade. No devaneio do escritor, o indivíduo está se tornando um pequeno chip dentro de um sistema gigantesco de dados, ou seja, você é somente um algoritmo.

Ficção ou realidade? O tema é complexo e se presta à polêmica. Não tenho ideia do estágio tecnológico da humanidade, digamos, daqui a 50 anos. A longevidade, que está aumentando, certamente será ainda maior. Isso, claro, se o homem sobreviver a pandemias, como a Covid-19, e ao seu próprio poder de destruição do planeta. Quanto a vencer a morte, isso já é outra história!

A característica mais visível da tecnologia atual é o aumento da mobilidade. O celular e a internet criaram o Homo mobilis, definido pelo criador dessa expressão como "um solitário não isolado". Quando, em 1876, o americano Graham Bell apresentou um aparelho que transmitia a palavra através de uma linha elétrica de cerca de três quilômetros de fio, ninguém imaginava que se chegaria ao smartfone. Aliás, o telefone celular só apareceu em meados da década de 1980 e, a princípio, era restrito quase exclusivamente ao universo profissional. A primeira vez que vi alguém portando um celular foi no aeroporto, falando sobre negócios.

Hoje, o celular não só ganhou as residências (superando o telefone fixo), como, desde tenra idade, passou a fazer parte da vida das pessoas. Além de falar de qualquer lugar, o celular serve para instalar diversos aplicativos, para jogar, fazer compras, pedir comida, alugar um carro, reservar ingresso, agendar consultas, ajudar a polícia etc. Aliás, talvez seja mais fácil descrever o que o celular não faz.

O uso intempestivo do celular, com frequência, tira a tranquilidade das outras pessoas. É comum avisos restringindo a utilização do aparelho em consultórios médicos, cinemas e até igrejas. Mas, em todos os outros locais, somos obrigados a participar de conversas que não nos dizem respeito. A falta de civilidade é um fato. Outra questão importante é a relação com o próximo: "pendurado no meu celular, atento às palavras do meu interlocutor, já não vejo as pessoas com quem cruzo, já não presto atenção na diversidade de fisionomias". As outras pessoas se tornam invisíveis para mim.

Nos anos 1960, quando a hipótese de um conflito nuclear entre Estados Unidos e a União Soviética era mais presente ("Guerra Fria"), os militares americanos temiam que as linhas de comunicação com o centro de comando pudessem ser destruídas. Dessa preocupação surgiu a internet. Na década de 1980, essa nova rede se torna um instrumento de comunicação universitária, começando pela Califórnia. Não é à toa que o chamado Vale do Silício, de alta tecnologia, se localiza nesse Estado americano.

No Brasil, a internet percorreu o mesmo caminho. Começou nas universidades e, posteriormente, se espalhou no resto da sociedade, por meio de provedores privados. A princípio, o que mais atraía na internet era o correio eletrônico (e-mail), que permitia escrever e responder mensagens quase de imediato, a um custo e tempo incomparavelmente menor que o correio comum. A proliferação de sites digitais de informação, comércio (e-commerce), mecanismos de busca (Google), troca de mensagens (WhatsApp), aplicativos (Facebook) e filmes (Netflix) trouxeram novo impulso ao uso da internet.

Mas, nem tudo são flores. O disparo de mensagens falsas (fake news) na internet, por meio de robôs, sobretudo em época de eleições, constitui uma ameaça à própria democracia.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

O dia em que vi Maradona jogar Anterior

O dia em que vi Maradona jogar

Santa Maria, que cidade queremos? Próximo

Santa Maria, que cidade queremos?

Colunistas do Impresso