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Época de intolerância

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É tempo de agitação. Os dias são conturbados por mudanças dos costumes e da forma e condições da vida humana, trazidas pela urbanização acelerada, facilidade de trocar o campo pela cidade, as cidades menores por maiores, perda das raízes; o avanço tecnológico trouxe o efêmero e o descartável. É transição de um presente que guarda muito dos costumes e princípios morais e culturais do passado que se misturam com moral e cultura diferentes, que se chocam entre si. São exemplares disto, obsolescência de profissões e o surgimento de outras, a precarização das relações de trabalho formal, novas estruturas familiares, proteção legal e garantia de direitos aos LGBTQ+, maior longevidade humana com incerteza e dificuldade de aposentadoria, dentre tantos outros.

A transição ocorre de forma muito rápida, e estando no "olho do furacão", ainda não nos adaptamos ao novo, mas sentimos os efeitos que já se operam na base na sociedade, trazendo desconforto, pois tudo que nos moldou, independentemente da vontade pessoal de cada um, está mudando e sendo revalorado. Vive-se, ao mesmo tempo, numa sociedade que agoniza e noutra que começa a se erguer, sem que se veja e entenda claramente o que acontece.

O século passado foi esquina que a humanidade dobrou em direção a caminhos novos, como o surgimento do estado de bem-estar social, com políticas de intervenções econômicas e sociais pelos governos para promover justiça social dentro do sistema capitalista, através de regulação econômica e distribuição de oportunidades mais igualitária. Foi impulsionado o desenvolvimento tecnológico que trouxe a redução do espaço/tempo, tornando as viagens cada vez mais rápidas e a comunicação instantânea e, assim, diminuiu o tamanho do mundo.

Apesar disto, a insatisfação é crescente. Os desejos individuais perderam limites, o consumismo é moda e todos, desde o mais pobre ao mais rico estão insatisfeitos, todos querem mais.

Os desejos não alcançados podem levar ao ressentimento, sentimentos de despeito, dor, mágoa consigo mesmo, mas que facilmente é atribuído ao outro, pois, parafraseando Sartre, o outro é nosso inferno. Aí nasce a intolerância, filha do ressentimento, que descende da falta de consciência de que os outros, em regra, não têm responsabilidade sobre as frustrações pessoais. Assim surgem a xenofobia, misoginia, homofobia, e todas as intolerâncias.

Após breve período histórico, que valorizou a solidariedade, o respeito, a honestidade e a rejeição, a ideia de que forças externas devam ditar a moralidade dos atos humanos, há sinais de retrocesso à uma sociedade em que o indivíduo não vê no outro um semelhante, mas um objeto utilitário e que em momentos de frustração venha servir de bode expiatório. Parece que estão abertas as portas de uma nova era de intolerância.

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