opinião

É por todas nós!



Estamos assistindo uma onda de violência nas últimas semanas que, no mínimo, nos deixam perplexos! A morte da Marielle, de forma brutal, sacudiu o país. Na verdade, o mundo inteiro se espantou. Manifestações pelo fim da violência contra as mulheres foram vistas em diferentes países. Agora todos sabemos que Marielle era moradora de uma favela no Rio de Janeiro, negra, lésbica, vereadora e defensora dos direitos humanos. Ao compartilhar uma homenagem para ela nas minhas redes sociais, tomei por surpresa que, no mesmo instante, recebi mensagens alertando sobre algumas "verdades". O teor dos avisos emanavam um certo tom de ódio. Logo, as notícias foram surgindo e, aos poucos, revelavam que algumas informações eram falsas. Refleti sobre os motivos a quem essa moça incomodava tanto. Recados insistentes continuavam chegando, advertindo de que, nesse país, todos os dias morrem muitos policiais e, portanto, não precisaríamos nos importar tanto com essa morte. Sim, Marielle inclusive intercedia por esses profissionais, afinal, ela defendia os direitos humanos. E humanos, somos todos nós.

Só para deixar claro, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é um dos documentos básicos das Nações Unidas assinado em 1948. Nela, são enumerados os direitos que todos possuem. Os direitos devem ser independentes de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição. Incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre e muitos outros.

Notícia mais recente sobre a morte da policial Caroline, branca, hetero, que estava em férias com seu marido no nordeste do país, cria outra onda de "revolta por não ter revolta". Calma, pessoal. Todas as vidas importam. Não precisamos suscitar a raiva para saber qual morte tem maior significado.

Lembremos que, anterior a esses fatos, ocorreram as manifestações de "bem feito" sobre o assalto a uma deputada que defende os direitos humanos. É impressionante o rancor que as pessoas carregam contra quem pensa diferente dos seus ideais. Nem sei se é possível chamar de ideal desejar ou festejar quando alguma pessoa passe por uma situação desagradável.

A verdade é que nesse país ser mulher é perigoso. Ser mulher negra é mais arriscado ainda. E não é "mimimi". Só observar algumas estatísticas do Oiapoque ao Chuí! Dados do Ipea estimam que ocorreram, em média, 5.664 mortes de mulheres por causas violentas a cada ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma a cada hora e meia. Em diversos países, as mulheres negras aparecem como maioria das vítimas em vários indicadores de violações de direitos humanos - e no Brasil não é diferente. Querer que aceitem os argumentos pelo grito e no relho não cabe no século XXI. Que tal exercitarmos um pouco de diálogo e boas maneiras?

A luta contra a violência é, sim, por todas nós. Mas não podemos esquecer que ainda não somos iguais. As mulheres negras ainda são mais vulneráveis. A diferença da morte da Marielle, entre tantas outras que ocorrem diariamente, está no fato de que ela representava a voz de muitos que não conseguem falar e de um ideal de direitos humanos. E foi assassinada justamente por isto.

Portanto, o movimento #Mariellepresente me representa. Entendendo, obviamente, que todas as vidas importam.

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