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Bolachas de Natal

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Sou muito apegada a tradições que me remetem a pessoas e a fatos. Adoro lembranças, as cultivo como tesouros. Adoro ficar olhando objetos que guardam significado. Nas paredes da minha casa, exponho e espalho lembranças. A feitura de bolachas de Natal faz parte dos momentos que significam.

A Dona Elda, minha sogra, era uma pessoa que tinha sensibilidade imensa para criar tradições. No início de dezembro, a família se reunia em um sábado para fazer bolachas. Íamos todos, noras, filhos e netos. A massa era feita por ela, que também gerenciava todas as etapas. Era sempre assim. Ela era uma mulher forte e de muita personalidade.

Processar cinco quilos de farinha era uma tarefa longa. Aquele fim de semana era ocupado com as bolachas. A Zaida era responsável por assar. Ela veio muito jovem para trabalhar na cidade. Ajudou a criar filhos e netos. Era uma cozinheira de mão cheia. Ninguém melhor do que ela para a tarefa. As bolachas eram cortadas uma a uma e precisavam ficar clarinhas para destacar a decoração. Traziam formas natalinas, sinos, estrelas, papais noéis, pinheiros, bonecos de neve. Esta tarefa era executada pelos netos, filhos e noras.

Assim que a primeira fornada saía, o ritual da decoração era iniciado. O merengue firme e branco era dividido em potes para ser corado de azul, rosa, verde, vermelho, amarelo. Múltiplas cores. Complementavam, confeitos de todos os formatos e cores. A imaginação dava asas à criatividade e aos sentidos. A Biba, bisavó, era a encarregada da secagem das bolachas. Muitas vezes, deixar ao sol era suficiente. O cheiro de sal amoníaco tomava conta da casa. Grandes latas de banha eram usadas para o acondicionamento, assim não perdiam a crocância.

O sentido do Natal estava presente em todos os aromas, gestos e formas. Cada bolacha guardava união, a balbúrdia dos netos, as cores e os sabores do renascimento, da esperança e da alegria. Enfim, Natal sem bolachas não é completo. Com o tempo, as posições e as hierarquias se modificam. Hoje, sou eu a vó que cultua a tradição. Todos os natais, eu e a neta Giovana fazemos bolachinhas para a família. A receita foi modernizada. Em vez de banha, manteiga. Em vez de sal amoníaco, bicarbonato de sódio. O merengue deu lugar ao fondant.

A descaracterização da receita não afetou o significado. Este tempo, ainda hoje, alimenta as lembranças natalinas mais significativas dos meus filhos. As mesmas que desejo alimentar em minha neta. O tempo é transitório. A memória marca. Que fiquem as memórias de uma vó que buscou valorizar momentos e sentidos. Que fiquem as memórias de união, de sentimentos renovados, de açúcar e de afetos.

Queridos leitores, grata pelo carinho e leitura dos meus textos. Que a felicidade prevaleça em 2020. Que os encontros e os sentimentos tenham maior significado do que os presentes. Que busquemos um mundo melhor, social e ambientalmente mais justo. Felicidade! Amor! Vida plena!

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