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Tenho escutado muito, de muitas gentes, de todas as idades, sobre o anseio de que tudo deste período excepcional logo se vá, logo se acabe, logo termine. Por óbvio também assim o quero.

Ressalvadas as dores inimagináveis dos tantos que se despediram de seus amados familiares e amigos, e que, justamente, por isso têm por este ano já em ocaso a ojeriza dos que sofrem a dor da saudade, aos demais, penso, algo ter de ficar guardado na linha da existência, pois nem tudo foram trevas.

Não penso seja este ano digno ou passível de esquecimento na sua integralidade, como ouço igualmente de, como dito em introito, gentes, muitas gentes. Repito: excepciono os enlutados, por razões que transcendem a obviedade.

Refiro aos que sucumbiram a sofrimentos de toda a ordem que não as funestas, mas às privações, angústias e vicissitudes menos amargas, ainda que penosas sensações a abalar ânimos, psiques, normalidades, negócios, em suma, as coisas da vida que por não extinta, continuam e continuarão.

Mesmo entre as brincadeiras a respeito, por exemplo, de não se fazer aniversário em 2020 já que nada aconteceu como dantes, há um tímido clamor, uma camuflada súplica para que ali na frente se instaure o esquecimento total e que tudo volte a ser como era.

Mas e as lições e revelações que naturalmente advêm de experiências difíceis que a vida insiste em nos apresentar pesada e compulsoriamente e que, invariavelmente, alicerçam alterações, melhorias, evoluções, ajustes individuais e coletivos a tanto tempo necessários e há muito deixados para depois, como ficam?

Há tantos proveitos que se pode colher de tamanho magistério pela realidade que seu esquecimento, ou sua ignorância, mais que desperdício redundaria em perigo de reprovação e repetição de tudo o que hoje nos assola. E, isto sim, tenho absoluta certeza de não ser do querer de ninguém.

Do que se pensava serem frugalidades, como a repentina proximidade familiar entre os que, apesar de habitar a mesma casa se encontravam a quilômetros de distância mútua e que, repentinamente, tiveram de se enxergar, se tolerar e verdadeiramente se conhecer, aos que se consideravam próximos e que na verdade nunca, em nada, estiveram efetivamente juntos senão em razão de, agora sim, vistas e então sabidas circunstâncias frugais.

Dos momentos de ócio e, portanto, de reflexão imposta já que a desculpa da vida atarefada fora extirpada de poucos a muitos momentos dela, trazendo tempo abundante como nunca antes logo, para o simples ato de pensar.

Não, estes tesouros e seus frutos não podem ser simploriamente jogados na vala do esquecimento.

Um que outro, ou inúmeros, eu sei, dirá ou dirão que a si nada disso sobreveio, mas só desvantagens, só tragédias e que por isso o ano tem mais é de acabar mesmo e a vida de seguir sem se olhar para trás.

Mas é só falta de atenção, como ocorre com qualquer aluno, de qualquer grau que, apesar da matéria exposta por talentoso e apaixonado mestre não entendeu por não ter atentado, só isso.

A notícia boa é que ainda há tempo.

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