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Analfabetismo espiritual

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Quando a senilidade chega e soma-se à morte de milhões de neurônios, entramos em uma fase até então desconhecida das nossas vidas: a capacidade de esquecer, com facilidade, por exemplo, em quem votamos na última eleição, para vereador, deputado, senador, o que comemos ontem no almoço e tantas outras lembranças que a nossa memória, mesmo sem a nossa autorização, já descartou sem nenhum constrangimento. Os que estão vivendo essa fase da vida entendem perfeitamente o que estou dizendo. Já, os que ainda não chegaram, um dia entenderão. É tudo uma questão de tempo.

Mas, por que estou começando este artigo desta forma? É para dizer que não lembro se já escrevi aqui neste espaço sobre "analfabetismo espiritual". Pois, o analfabetismo espiritual é muito, muito, muito maior que o intelectual, pois que é um processo educacional que nos coloca em contato com aquela parte que menos conhecemos de nós mesmos: o nosso íntimo, o nosso "eu", verdadeiro depósito de sentimentos incongruentes como agressividade e polidez, amor e ódio e tantas outras dicotomias emocionais que nos fazem ser como somos, tanto para o bem como para o mal. O grande problema de todos nós, devido ao nosso ainda precário desenvolvimento espiritual, é a falta de habilidade para lidar com as nossas emoções, causa principal das nossas dores. Exatamente por essa falta de habilidade no controle das emoções que surgem os acontecimentos trágicos da violência e da agressividade descontrolada.

Não esqueçamos que a vida física é uma experiência valiosa, mas ao mesmo tempo desafiadora dentro do nosso processo de crescimento espiritual. E dentro dessa constelação de emoções, associada ao momento de polarização, principalmente política, em que vivemos, as emoções tóxicas borbulhantes como a lava de um vulcão dentro de nós, vem à tona com muita facilidade.

O indivíduo imaturo quando confrontado frente a qualquer dificuldade, exala, como proteção, cargas de raiva, mágoa, intolerância e tantos outros sentimentos inferiores. Já, quando mais amadurecidos, considera o controle das emoções inferiores como uma vitória a ser comemorada. Viver é construir-se interiormente, é burilar a si mesmo dando vazão às emoções saudáveis e brecando as maléficas. Não é, em verdade, uma tarefa fácil, mas que precisa ser iniciada o quanto antes sob pena de encerrarmos nosso estágio neste planeta-escola com o mesmo grau de poluição interior com a qual aqui chegamos. Para isso é preciso equilibrar as ações dos nossos dois cérebros: o emocional e o racional. Não podemos ser sempre emoção e nem sempre razão. A emoção é inata e instintiva, aflorando, muitas vezes, a qualquer momento e sem mesmo pedir licença. Já a razão é o produto final da análise do embate entre, o viável e o improvável, o certo e o errado.

No momento que conseguirmos harmonizar esses dois cérebros que habitam em nós, teremos amplas condições não de matar o indivíduo hostil que vive em nós, mas controlar sua hostilidade substituindo sentimentos negativos por outros de natureza mais harmônicas e saudáveis. Viver a vida é um fenômeno biológico que, para tal, precisamos apenas deixar a vida nos levar. Já viver em paz, dá mais trabalho porque, para que isso aconteça, precisamos saber qual o nosso papel no mundo, por que estamos aqui e o que viemos fazer aqui. Não podemos fugir da nossa realidade interior, mas sim mergulhar nela para descobrir, em nós mesmos, o que precisamos manter, porque que está bom, o que precisamos melhorar, porque está apenas regular e o que precisamos extirpar, porque está ruim.

Esse processo vai gerar algum trabalho? Sim, claro que sim, mas pode acreditar que vai valer a pena. E quando conseguirmos alcançar algum sucesso e subir alguns degraus nesse processo evolutivo, surgirá, à nossa frente, uma das maiores verdades que normalmente ignoramos. A de que estamos encarnados aqui neste mundão de Deus não para virarmos anjos ou arcanjos de pureza de alma, mas sim para limpar as manchas e retirar as impurezas emocionais, umas pequenas, outras grandes que, apesar de não aparecerem no espelho, carregamos conosco. Quando entendermos isso, estaremos dando um importante e decisivo passo para sairmos do nosso analfabetismo espiritual.

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