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A esquerda no divã

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Animados pelo desgaste de Bolsonaro na "queda de braço" com os demais poderes, os principais líderes de oposição têm se revezado ultimamente em entrevistas nos meios de comunicação. Defendem uma espécie de pacto para tirar Bolsonaro do poder. Até Lobão (entrevista no "Roda Viva") se juntou à alegre trupe.

Prestes a completar 90 anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) experimentou uma maratona de entrevistas (CNN, Globo News) não aparentando a idade que tem. Numa delas, FHC debateu com Ciro Gomes e Marina Silva. Falaram de casa, através de home vídeo. Afáveis entre si, todos concluíram ter subestimado Bolsonaro, mas nenhum admitiu ser culpado pela situação atual. Como é de praxe, culparam os governos do PT. Curioso, Bolsonaro diz a mesma coisa. O mais estranho é que agora recriminam novamente o PT - Lula em especial - por não estar ao lado deles. Sinal que ainda persistem feridas abertas no passado. Marina foi favorável ao impeachment da Dilma e Ciro "lavou as mãos" no segundo turno, recusando-se a apoiar Haddad (foi para o Exterior, de férias). Não há como negar, ambos têm "culpa no cartório" pela vitória da extrema-direita.

Explicar a posição de FHC é um pouco mais difícil. Ele parece aquele motorista que liga a seta do veículo para a esquerda, mas, na "hora H", acaba indo para a direita. Como sociólogo e professor, sempre foi considerado um quadro de esquerda. Seus textos também apontam nessa direção. Foi inclusive orientado por Florestan Fernandez, um dos fundadores do PT. Nas suas origens, tem laços militares por parte de pai (também jornalista e advogado) e avô (general). Após o golpe militar de 1964, perdeu sua cátedra na USP e chegou a ser preso por um dia, ocasião em que foi para o exílio (Chile). Falam as "más línguas" que FHC não foi obrigado a sair do país, e sim foi uma opção pessoal.

FHC governou por dois mandatos. Na sua gestão, a Constituição foi alterada para permitir a sua reeleição. Seu principal trunfo foi a estabilização da economia após a implantação do Plano Real (governo Itamar Franco). A utilização do câmbio fixo (equiparação do real ao dólar) levou ao esgotamento das reservas após crises cambiais e a mudança para o modelo de câmbio flexível (taxa de câmbio determinado pelo mercado de moeda estrangeira). Implantou um ambicioso programa de privatizações, vendendo muitas empresas estatais, o que lhe rendeu pesadas críticas dos opositores. Deixou também a impressão de que, como sociólogo, povo é apenas uma "categoria de análise", uma vez que o seu governo não avançou nos programas sociais.

O partido de FHC (o PSDB) teve grande influência no impeachment de Dilma Rousseff. FHC manteve uma atitude dúbia. Aparentemente, o PSDB imaginava que o desgaste político do PT levaria o partido de volta ao poder. Isso não se confirmou: seu candidato (Alckmin) não decolou. O tempo mostrou o erro dessa decisão. Pelo seu comprometimento com a destituição de Dilma, o PSDB foi obrigado a dar sustentação ao governo Temer. Associou-se com o fisiologismo no Congresso e perdeu sua identidade e, nesse sentido, paradoxalmente, se assemelha ao drama do próprio PT.

FHC, na entrevista da CNN, elogiou a honestidade de Dilma e disse que ela caiu pela perda da base no Congresso. É verdade. Ficou refém do "Centrão". Mas, sem os votos do PSDB, a oposição não conseguiria o impedimento da presidente. Estranho que agora FHC não proponha o impeachment de Bolsonaro. Quer que ele saia, mas não diz como. Afirmou que anulou o voto nas eleições. Essa atitude, somada ao seu silêncio, facilitou a vitória de Bolsonaro. Como diz o provérbio: "quem pariu Mateus, que o embale".

Por último, resta Fernando Haddad na sua entrevista ao site UOL. De tudo que disse, o principal é que continua apostando na candidatura de Lula à Presidência em 2022. Repete o mesmo erro das eleições de 2018, quando deixou de fazer campanha esperando Lula sair da cadeia. Para ser candidato, Lula terá que anular os processos em que foi condenado, coisa muito improvável. Enquanto isso, continua inelegível pela lei da "ficha limpa". A sombra de Lula paira sobre o PT como um estigma do passado.

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