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A banalidade do mal

data-filename="retriever" style="width: 100%;">A expressão "banalidade do mal" criada por Hannah Arendt, teórica política alemã, em 1963, quando ela escreveu um livro sobre o julgamento do nazista Adolf Eichmann em que narra como o mal foi encarado de uma forma banal, com roupagem de normalidade, durante a Segunda Guerra Mundial, nunca esteve tão atual na contemporaneidade. Há quase 60 anos, a escritora concluiu que pessoas tidas como "normais" na sociedade, vale dizer, que não parecem possuir uma índole ruim ou um desejo incontível de fazer o mal aos outros, acabam por ter comportamentos absurdamente frios diante dos valores ou sofrimentos alheios, sem refletir sobre o bem ou mal que podem causas às pessoas.

A narrativa dela se refere a um período de guerra, em que um incontável número de pessoas não questionava as ordens superiores, apenas as executavam de forma competente e prestativa, sem se importar com as consequências advindas de suas atitudes, convictos de que elas não eram responsabilidade sua. O próprio Eichmann afirmou, durante seu julgamento, por várias vezes, que se considerava um bom profissional, uma pessoa correta e competente, pois executara com afinco e aptidão todas as atividades que lhe foram atribuídas (no caso, ações visando ao extermínio de milhões de judeus).

No mesmo dia em que se olha com tristeza para um passado não tão distante (há exatos 60 anos, dia 27 de janeiro de 1945, foram libertados os prisioneiros do maior campo de concentração da Alemanha Nazista, o campo de Auschwitz, na Polônia), três membros de uma mesma família são assassinados a tiros, em Porto Alegre, em face de um simples desentendimento no trânsito, por um jovem de 25 anos de idade, sem antecedentes criminais. Você pode perguntar o que um fato tem a ver com outro, eis que distante temporal e geograficamente, mas um olhar mais acurado permite inferir que em ambos o mal banal está presente.

Uma sociedade em que não há sopesamento de valores no momento da adoção de qualquer conduta e onde a vida das pessoas é encarada com total descaso é uma sociedade doente. A sociedade moderna, com seus estresses, suas urgências e seus egoísmos, assim como a sociedade antissemita de meados do século passado são corpos sociais enfermos, onde o mal é um comportamento banal, desencadeado por motivações vis.

Enquanto o ser humano não assumir a responsabilidade por ser um ente pensante, com capacidade e obrigação de ponderar diante das intercorrências da vida - especialmente da vida moderna, com suas pressões e vulnerabilidades -, o mal continuará sendo banalizado e pessoas aparentemente "de bem" agirão sem se importar ou ao menos sem refletir sobre o mal que suas condutas desencadeiam.

Que todos tenham discernimento e capacidade de dizer "não" à banalização do mal!

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