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Relatos da Kiss: o silêncio de Santa Maria na segunda-feira, dia posterior à tragédia

Relatos da Kiss: o silêncio de Santa Maria na segunda-feira, dia posterior à tragédia

Foto: Marcelo Oliveira (Diário)

Desde a tragédia na boate Kiss, os santa-marienses guardam memórias que gostariam de nunca ter vivenciado. Pais, mães, amigos das vítimas, assim como sobreviventes e pessoas que trabalharam na noite do dia 27 de janeiro de 2013 ainda sofrem com a dor e a lembrança do incêndio, que, para muitos, ainda não teve fim.

Desde o início da semana, o Diário traz uma série com relatos de pessoas que fizeram parte da tragédia da boate Kiss. Para finalizar, o depoimento deste sábado é da Gabriela Zanolla. Ela é cirurgiã pediatra, plantonista e médica legista.

Muitas cenas de tristeza não ficaram restritas à madrugada. Gabriella foi uma das pessoas que acompanhou de perto a semana após o incêndio em Santa Maria. A médica estava de férias e voltou para o plantão no domingo de manhã. Além dos atendimentos naquele dia, que foram muitos no Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, Gabriela acompanhou uma amiga no Centro Desportivo Municipal (CDM), para fazer o reconhecimento do irmão dela, que tinha falecido.

– É a cena que eu queria apagar da memória, mas quando fecho o olho, lembro exatamente disso – relata.​

Ainda no domingo, uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) foi aberta às pressas no Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo para receber os pacientes mais graves.

– Todos os hospitais estavam lotados, clínicas também abrigaram pessoas. Naquela época, os locais não tinham estrutura ou não estavam acostumados a receber pacientes com tamanha gravidade – lembra.

Diante da demanda, Gabriela recorda que a equipe médica santa-mariense de todas as áreas se mobilizou para ajudar. Ao mesmo tempo que presenciaram o sofrimento de perda de muitas pessoas, os trabalhadores da saúde também se desgastaram fisicamente e emocionalmente durante a semana.

– Nós fazíamos um comboio de ambulâncias para transferir os pacientes que precisavam de tratamento que não tínhamos condições de oferecer aqui. Acho que não teve ninguém da área da saúde que, no final daquela semana, não chorasse de tristeza profunda por vivenciar aquilo. Foi desgastante porque alguns pacientes graves demoraram muito tempo para sair e outros, apesar de todo o esforço, partiram.

Em outro momento, ela lembra do medo que permaneceu em muitos jovens naqueles dias. Muitos chegaram buscando atendimento devido à falta de ar. Aqueles que ainda não tinham sentido os sintomas, também se dirigiam aos hospitais com receio de sentir falta de ar mais adiante.

Apesar dos atendimentos permanecerem nos próximos dias e meses, Gabriela nunca esqueceu do sofrimento da primeira segunda-feira após a tragédia em Santa Maria.

– Aquele dia, eu lembro até hoje, que a cidade estava em silêncio. Na rua, mesmo com os carros andando, parecia um feriado nobre, porque todo mundo falava baixinho, não tinham buzinas. Estavam todos chocados, tristes e respeitando a dor alheia e a dor da cidade. Em cada local que a gente passava de ambulância, tinha um jovem sendo velado. Eu lembro dessa segunda-feira até hoje – finaliza.

*Laura Gomes

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