![Intervenção com colagem de fotos e frases espalhadas da Saldanha Marinho até a boate Kiss convida a população a refletir Intervenção com colagem de fotos e frases espalhadas da Saldanha Marinho até a boate Kiss convida a população a refletir](https://suitacdn.cloud-bricks.net/fotos/864633/file/desktop/1e8b5dab-7256-4335-b348-43b6530125cd.jpg?1697648387)
Foto: Nathália Schneider (Diário)
Nesta quarta-feira (25), começou a programação em memória dos 10 anos da tragédia na boate Kiss, incêndio que deixou 242 mortos e mais de 600 feridos. Até o dia 28 de janeiro, estão previstas atividades envolvendo intervenções, acolhimentos e conversas. A primeira ação teve início nesta quarta, por volta das 19h, na Praça Saldanha Marinho. Sobreviventes, pais, familiares e amigos das vítimas realizaram uma intervenção com colagem de fotos e de frases, nas calçadas do trajeto entre a tenda da AVTSM na Praça Saldanha Marinho e o prédio onde funcionava a boate, na Rua dos Andradas.
A ação desta quarta foi idealizada pelo Eixo Kiss, do Coletivo de Psicanálise de Santa Maria, em parceria com a Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). Segundo Ariadini de Andrade, uma das integrantes do coletivo, a ideia da intervenção surgiu do slogan ‘Resgatar memórias, reconstruir o futuro’, que marca os 10 anos do incêndio:
– Nós recolhemos frases que estão circulando nas redes sociais durante esses 10 anos, como ‘deixa descansar’ e ‘vamos seguir’, e devolve isso para a sociedade de uma maneira menos hostil, com artes e fotografias. São fotografias destes 10 anos, de abraços e de mãos dadas, feitas durante as ações que falaram sobre a Kiss. É para as pessoas se reposicionarem frente a tragédia, pensarem o quanto essa dor é nossa, essa ferida é de Santa Maria. Isso mudou a vida da cidade, é nesse sentido que a intervenção vem, para colocar questões.
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O presidente da AVTSM, Gabriel Rovadoschi Barros, reforçou a necessidade do desenvolvimento de ações como essas na cidade, para que a história possa se perpetuar e não ser esquecida:
– Hoje, estamos registrando no chão da cidade coisas que a gente ouviu e coisas que a gente viu no nosso movimento, imagens de amor e de afeto, como forma de convocar a cidade a se perguntar certas questões. Marcamos hoje um registro do nosso passado para que amanhã a gente possa percorrer esse mesmo caminho para pensar junto o futuro, que deve levar em consideração tudo o que passamos.
Foram aplicadas no caminho da tenda até a boate e na fachada do prédio fotos e frases marcantes. As imagens dos cartazes foram feitas pelo fotógrafo Dartanhan Baldez Figueiredo.
– A importância do trabalho é o registro histórico. Eu passei a acompanhar esse massacre, quando eu publiquei as primeiras fotos eu já caracterizei como um massacre, em função de tudo o que aconteceu. São fotos que eu registrei dos diferentes eventos e, principalmente, das questões solidárias que os pais, mães e sobreviventes passaram a desenvolver. Eu acompanhei basicamente todas as atividades ao longo destes 10 anos. Essas fotos todas estarão disponíveis quando inaugurar o memorial – completou Dartanhan.
Para os sobreviventes, as ações em memória das vítimas do incêndio são importantes para que a tragédia não seja esquecida e para que casos como esse não venham a se repetir. É isso que explica a sobrevivente Cristiane Clavé, que participou do ato.
– É para que tenha justiça, que todos os erros tenham uma consequência. Que nunca mais ninguém passe o que eu passei lá dentro, o que eu passei depois e o que eu estou passando aqui. Essa semana estamos colaborando em todos os eventos, mas é muito doloroso. Ajudar me ajuda a passar por isso, mas eu revivo tudo, cada dia, cada pesadelo, cada noite mal dormida. Eu espero que não seja em vão, que as pessoas aprendam e que não se repita – explicou.
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Os pais das vítimas também estiveram atuantes durante estes 10 anos na luta por justiça e contra o esquecimento da tragédia. Uma das mães que partiparam da ação foi a Maria Aparecida Neves, mãe de Augusto:
– Na minha mente é como se tivesse acontecido ontem. Tem dias que me levanto de manhã e choro, vem tudo na minha cabeça. Dizem que o tempo cura, mas ele não cura. Pelo contrário, são 10 anos e eu ainda sinto saudade do meu filho, dor daquele dia. A importância da homenagem é para as pessoas lembrarem, as pessoas tem que saber o que realmente aconteceu – relatou a mãe.
Ao chegarem na frente da boate, o ato foi encerrado com um discurso do presidente da AVTSM, Gabriel Rovadoschi Barros. A intervenção deve continuar na quinta-feira (26) com a colagem de mais cartazes – foram confeccionados 500 – na fachada do prédio.
Programação
A programação que marca os 10 anos da tragédia na boate Kiss é organizada pela Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) em conjunto com o Coletivo Kiss: Que Não Se Repita e o Eixo Kiss do Coletivo de Psicanálise de Santa Maria. Confira a programação completa abaixo.
Dia 26/01, quinta-feira
- 14h: Coletiva de imprensa no auditório da Sedufsm (Rua André Marques, nº 665)
- 16h: Acolhida (Praça Saldanha Marinho)
- 18h: Abertura (Praça Saldanha Marinho)
- 18h30min:10 anos da AVTSM com Adherbal Ferreira, (pai Jhenifer e ex-presidente), Flávio Silva (pai de Andrielle e ex-presidente) e Gabriel Rovadoschi (sobrevivente e presidente da associação)
- 19h30min: Aniversariando Ausências com Fabrício Carpinejar (Poeta e cronista gaúcho)
- 21h: Exibição do primeiro episódio do documentário da GloboPlay Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria (no auditório do Colégio Marista – Rua Floriano Peixoto, 1217) e painel com atividades simultâneas para aqueles que não quiserem assistir (na Praça Saldanha Marinho)
- 22h:Vigília e ações de homenagem em frente ao prédio em que funcionava a boate
Dia 27/01, sexta-feira
- 10h: Abertura e culto ecumênico (Praça Saldanha Marinho)
- 13h45min: Soltura dos balões (Praça Saldanha Marinho)
- 14h: Mães y Madres: Kiss e Cromañón com Nilda Gomez (Familias Por La Vida – Argentina) e mães da AVTSM
- 15h30min: O Caso Kiss: até quando a justiça vai servir à impunidade? Com Tâmara Soares (advogada que representa a AVTSM no litígio internacional), Paulo Carvalho (pai do Rafael e diretor jurídico da AVTSM) e Pedro Barcellos Jr. (advogado que representa a AVTSM no processo penal)
- 17h: Por que prevenção vale a pena? Com Antonio Berto (pesquisador chefe do Laboratório de Segurança ao fogo e a Explosões no Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e Rogério Lin (superintendente da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e membro da Associação Brasileira de Proteção Passiva Contra Incêndio – ABPP)
- 19h: 10 anos do ‘‘Kiss: que não se repita” e apresentação da campanha ‘Tempo Perdido’
- 20h30min: Por que contar essa história 10 anos depois? Com Daniela Arbex (jornalista e autora do livro Todo Dia A Mesma Noite: A História Não Contada Da Boate Kiss) e Marcelo Canellas (jornalista e diretor da série Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria)
- 22h: Encerramento com Juliana Pires (cantora santa-mariense)
Dia 28/01, sábado
- 20h: Missa em homenagem aos 242 jovens, na Basílica Nossa Senhora Medianeira