Construída durante o período de império no Brasil, há mais de um século, a Estrada do Perau liga atualmente Santa Maria a Itaara. Porém, desde o dia 1º de maio, o trecho de pouco mais de cinco quilômetros já não cumpre mais o seu papel histórico. Deslizamentos de terra e queda de árvores na estrada bloqueiam a passagem de veículos. Assim, moradores perdem o acesso à rota alternativa, e trajetos levam o dobro de tempo para serem concluídos.
5,1 km entre bloqueios e paralelepípedos
Quem acessa a Estrada do Perau por Itaara, via BR-158, encontra certa normalidade no início do trajeto. No acesso do local, a tradicional placa de identificação e o letreiro turístico não acompanham nenhum tipo de sinalização que impeça a passagem de veículos. O tradicional chão de paralelepípedo guia motoristas e pedestres até o primeiro mirante no sentido Itaara a Santa Maria. No trajeto até lá, apenas alguns cones na pista sinalizam obras recentes. Porém, a pouco mais de 500 metros dali – próximo ao limite dos municípios – um obstáculo manual feito com terra e pedras impede a travessia. Assim, são mais de dois quilômetros de bloqueio na Estrada do Perau.
Quem mora no local, sente falta do acesso antes tão presente na rotina. Para a dona de casa Luciana Cancian, 53 anos, o Perau significa o principal acesso a Santa Maria. Conforme a moradora, o trajeto oferece mais rapidez e segurança – já que, para ela, o caminho pela BR-158 é mais perigoso devido ao grande movimento de caminhões e carretas.
– Eu uso bastante o Perau para Santa Maria, e os moradores daqui também para trabalhar ou estudar, principalmente, pela questão logística, da distância e também do trânsito, que é mais tranquilo. E não entendemos o porquê dessa demora e por que não deram jeito de arrumar.
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O engenheiro agrônomo Jerônimo Oliveira Junior, 65 anos, mora há 20 anos na Estrada do Perau e é a primeira vez que ele não pode contar com a rota alternativa:
– O acesso a Santa Maria está muito complicado porque tem barreiras que deixaram no nosso Perau e, por isso, estamos fazendo a volta. A nossa preocupação é, quando der algum problema na BR-158, como um acidente. Como as pessoas vão sair daqui?
Trajetos passam a ter o dobro de distância
No sentido Santa Maria a Itaara, o problema se repete. Logo no início da Estrada do Perau, uma placa fixada com cavaletes e bloqueios de terra sinaliza a área interditada. Pela entrada do Bairro Campestre do Menino Deus, na Rua Vereador Antônio Dias, o deslizamento de terra ainda é visível na encosta. Pouco antes do primeiro mirante, é possível observar onde a barreira de terra deslizou. Na via, árvores caídas e paralelepípedos fora do lugar dificultam a travessia até de quem faz o trecho a pé.
Com a interdição total no início da estrada em Santa Maria, não há como passar. Por isso, trajetos passaram a ter o dobro de distância. Seu Jerônimo conta que mora a sete quilômetros do Centro, se optar pelo caminho do Perau. Já pela BR-158, essa distância dobra: são aproximadamente 14 quilômetros para chegar ao destino. O mesmo é relatado por Luciana. A filha, que estuda em Santa Maria, leva o dobro do tempo para chegar à escola.
Sem previsão para liberação
O local segue monitorado pela Defesa Civil de Santa Maria e passa por avaliação de um comitê técnico. Geólogos e geotécnicos da prefeitura e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) trabalham na elaboração de laudos e proposição de soluções. Conforme a Secretaria de Elaboração de Projetos e Captação de Recursos (Secap), a área está sendo estudada quanto à geologia local, pois existem alternativas de solução geotécnica, conforme as avaliações técnicas preliminares.
A prefeitura, em nota, afirma que, “o comitê técnico monitora de forma contínua os locais com risco de deslizamento de terra e afetam a infraestrutura viária do município. Até haver laudo técnico que autorize intervenções para a retomada da trafegabilidade no trecho, a Estrada do Perau permanecerá bloqueada”.
Enquanto a reportagem esteve no local, na manhã desta terça-feira (11), motocicletas passavam pelos pontos, desviando das sinalizações. Moradores também relataram que alguns veículos têm atravessado os bloqueios pela calçada e encostas do morro.
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