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Como as compras online impactam na economia local

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Foto: Renan Mattos (Diário) 

A facilidade de adquirir um produto online fez com que as compras realizadas pela internet movimentassem R$ 61,9 bilhões no ano passado no Brasil - uma alta de 16% do que foi comercializado em 2018 (veja a evolução abaixo). Em média, segundo a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), cada aquisição via e-commerce custou, em média, R$ 417.

Contudo, as grandes redes de varejo dominam o segmento: dos mais de 970 mil sites de compras online no país, somente as 10 maiores empresas do setor movimentam mais de R$ 30 bilhões por ano. Se, por um lado, o consumidor se beneficia de preços atrativos, por outro, as cidades sofrem com a evasão de recursos que causam perda na arrecadação e, consequentemente, menor disponibilidade de dinheiro para os serviços públicos.

- Isso iria trazer uma arrecadação muito grande de impostos, aumentaria o emprego local e, consequentemente, esse valor arrecadado poderia ser reinvestido na cidade através de obras e outros serviços que o município oferece à sociedade. Estamos deixando os recursos escoarem para outras fontes e esse dinheiro é estratégico para o desenvolvimento econômico e social local - salienta o professor do departamento de Economia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Daniel Coronel.

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O presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Santa Maria (Sindilojas), Ademir José da Costa, endossa a posição do professor. Para ele, a principal diferença entre os preços cobrados em lojas físicas e o e-commerce - na sua maioria concentrado nos grandes centros - é a taxação sobre os produtos comercializados no Estado:

- Existe, primeiro, o diferencial sobre a alíquota do ICMS. Como a maioria está baseada em São Paulo, eles não pagam diferença de imposto para entrar no Estado. Já enfrentamos esse problema no preço de forma imediata. E não é só o problema do lojista que perde. O consumidor perde também.

O dirigente, que também é um dos vice-presidentes do sistema Fecomércio-RS, enfatiza a preocupação com a evasão de recursos.

 - Isso gera uma cadeia negativa muito grande de recursos que não ficam no município, que vão se escoando e eu vão fazer falta na saúde, na educação, além dos empregos que vão reduzindo - conta o empresário.

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A principal evasão de recursos se dá no imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) repassado pelo Estado. O cálculo é feito sobre todas as mercadorias que entram e saem do município. Quanto maior for o saldo positivo de vendas, mais dinheiro é repassado às cidades. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Ewerton Falk, ressalta a diferença do retorno que Santa Maria tem em comparação a outras cidades.

- Em Bento Gonçalves, esse retorno é em torno de 2%, enquanto Santa Maria recebe 1,16%. Ou seja, o e-commerce tira dinheiro do buraco da rua, tira dinheiro da educação, além, é claro, de não ajudar no emprego e na renda do município. 

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LOJAS FÍSICAS E COMPRAS ONLINE
Embora o e-commerce represente uma importante perda na receita local que, na maioria, é destinada aos grandes centros, este é um caminho sem volta. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, realizada em todas as regiões do país, mostra que 92% dos entrevistados já realizavam compras pela internet mesmo antes da pandemia.

As principais aquisições são dos setores de beleza e cosméticos, representando 31% das comercializações. A aposta das grandes redes de e-commerce em aplicativos próprios se prova rentável - 73% das compras são realizados via app. Em Santa Maria, a realidade não é diferente, entretanto, as vendas via rede social se destacam.

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Um estudo realizado pela Faculdade Integrada de Santa Maria (Fisma), em dezembro do ano passado, ouviu 340 pessoas de cinco bairros da cidade sobre seus hábitos de consumo online. Dos entrevistados, 69,1% afirmaram que costumavam realizar compras pela internet. E, deste número, 44,2% fechavam negócio por meio do Facebook.

A tendência em realizar compras por meio das redes sociais, segundo o professor Herton Goerch, que coordenou o estudo, foi reforçada em meio à pandemia:

- É uma coisa muito evidente. Essa tendência já era notável no ano passado e, durante a pandemia, ficou ainda maior.

O professor Goerch destaca o nicho de mercado causado pelos novos hábitos de consumo da população, que acaba ficando mais tempo em casa em função das medidas restritivas para evitar a disseminação do coronavírus.

- De certa forma, grande parte do comércio varejista de Santa Maria é muito tradicional ainda. Todos que tiveram, nesta época de crise, essa percepção de aderir às compras pela internet, tiveram um aumento significativo das vendas e o retorno de seus investimentos - ressalta.

Durante a semana, a reportagem percorreu as ruas da cidade para saber os hábitos de consumo online em meio à pandemia (confira alguns depoimentos abaixo). Das 20 pessoas ouvidas, a maioria tem o hábito de comprar via e-commerce. Contudo, mesmo com a expansão das lojas físicas da cidade para o ambiente virtual (confira mais nas pág. 6 e 7), nenhuma das pessoas ouvidas relatou que já fez alguma aquisição via internet do comércio da cidade - sem contar o ramo alimentício. O fato de ver o objeto desejado presencialmente e poder tocá-lo, para alguns, é o diferencial e, inclusive, vale a pena pagar mais por isso.

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Para a presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Santa Maria, Marli Rigo, o diferencial de estar perto das pessoas é o que garante a sobrevivência de muitas lojas da cidade.

- As lojas de rua, hoje, são muito necessárias para as pessoas. A loja física não é apenas uma entregadora de mercadorias. Ela é um ambiente onde as pessoas têm oportunidade de não só escolher o que querem, mas poder ter uma consultoria e, de fato, enxergar o produto que está comprando - afirma.

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Pandemia acelerou migração para o ambiente online 

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (DIário)

A pandemia acelerou a migração para o ambiente online de pequenos e médios negócios. Se, antes, já eram conhecidas as potencialidades de expandir a atuação para internet, agora, mais do que nunca, o movimento se faz necessário - e é comprovado em números. Segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), entre os meses de março e julho, foram criadas mais de 135 mil lojas de e-commerce no país. Antes da incidência da Covid-19, esse número se limitava a 10 mil novos sites por mês com destaque para os setores de moda, que concentra as maiores vendas online, alimentos e serviços.

Atenta ao movimento do mercado, a Ótica Sílvio Joalheiro resolveu antecipar os planos que já eram traçados antes da pandemia: entrar de vez no comércio online. Para isso, uma estrutura foi montada, com a colocação de uma pessoa exclusivamente para cuidar do site e responder as perguntas dos clientes pelas redes sociais.

- Nós protelávamos porque envolve muitas coisas, como tirar fotos, alguém no online, são coisas que precisam ser construídas. Até que veio a pandemia e aceleramos esse processo para nos aproximarmos dos clientes mantendo o distanciamento social - relata a gerente de marketing, Rejane Beuren.

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Com a empresa há mais de 40 anos no ramo de ótica e joalheria, a profissional destaca a essência do empreendedorismo, principalmente em épocas de crise, quando se reinventar é uma das poucas alternativas para sobreviver em um mercado competitivo, atribulado e com uma alta carga tributária incidente:

- Como empresa, é um momento de crescer, de se readaptar. O empreendedorismo é isso. Tu estás sempre te moldando aos novos momentos. Claro que esse momento é muito diferente, mas estamos vendo formas de crescer.

Com pouco tempo de operação, o e-commerce possibilitou a expansão nos horizontes e na atuação da ótica. As vendas, que eram inicialmente voltadas para Santa Maria e Região Central, rapidamente se expandiram para outros Estados e regiões do país.

- Já alcançamos clientes em São Paulo, Santa Catarina e outros lugares. As vendas para fora já representam mais do que é comercializado para Santa Maria - salienta a gerente do site, Andressa Moro, ao enfatizar que o frete grátis é um dos atrativos para os clientes, principalmente os que moram fora do Estado. 

Solidariedade pode combinar com e-commerce 

Com as medidas de distanciamento social para evitar a disseminação da Covid-19 e atentas às novas necessidades impostas pelo mercado, surgiu, em maio deste ano, a Minha Cesta Econômica. A empresa, criada por duas santa-marienses, tem uma concepção simples, mas que combina com os tempos que enfrentamos: comprar alimentos sem sair de casa e com economia.

Contudo, ao perceberem os problemas econômicos causados pela pandemia, além dos produtos que já estavam à venda, foi criada a Minha Cesta Solidária. O intuito é ajudar pessoas que estão passando por necessidades. A empresa, inclusive, se responsabiliza pela entrega das mercadorias onde o cliente preferir. Com 11 itens, a cesta busca atender as necessidades básicas de alimentação para uma família.

- Este ano, como não pude fazer uma festa de aniversário, resolvi doar uma cesta para cada ano de idade que eu estava fazendo. Achei o preço muito justo e a ideia inovadora. Realmente poderia ter comprado uma cesta básica por um valor menor, mas é tão importante a gente ajudar uns aos outros. Estou ajudando as pessoas e também a empresa - destaca a empresária Fabiana Barbosa, 37 anos

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As doações foram para a Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria de Lourdes Castro. Dede o início da pandemia, grupos voluntários, como o Corrente do Bem, atuam na escola para ajudar as famílias carentes em situação de vulnerabilidade social que necessitam de assistência.

- Estamos trabalhando de forma constante com a comunidade escolar. Temos tido mais atenção com as famílias em situação de vulnerabilidade social e que mais precisam de doações. É um cuidado que temos. Essa ajuda é muito importante para a gente - frisa a diretora Silvana Costabeber Guerino, ao salientar a importância da ajuda da comunidade, já que muitas crianças dependiam do alimento que era servido na escola que, em função da pandemia, foi suspenso. 

Liquida Diário Shopping é oportunidade para economizar e incentivar o comércio local 

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário) 

Com a aceleração da revolução tecnológica provocada pela pandemia, nunca as vendas online se tornaram uma questão tão importante para a continuidade do comércio tal qual conhecemos até hoje.

Para incentivar o setor durante essa nova fase - ou novo normal - o Diário criou o Liquida Diário Shopping, uma feira virtual em parceria com o site de compras Vem Delivery (vemdelivery.com.br) que vai até 15 de setembro.

Com descontos que chegam a 70%, além de ajudar a população, a feira possibilita que o mercado local se torne competitivo frente a grandes players do cenário nacional que oferecem a facilidade nas compras online.

- A feira é uma oportunidade para as empresas que ainda não deram esse passo tão importante que é a transição para o mercado digital. Não apenas isso, mas uma vitrine que vai expor marca e produto para milhares de pessoas e, portanto, possíveis novos clientes. O Vem Delivery ser a plataforma que possibilita tudo isso é o cumprimento do nosso objetivo, de conectar empresas e pessoas, gerando grandes negócios - afirma o diretor do Vem Delivery, Alessandro Mathias.

A plataforma foi criada justamente para absorver a necessidade do mercado se reinventar frente à pandemia, como explica o empresário:

- Assim que percebemos a instabilidade que se instauraria na economia, já começamos a projetar possibilidades para a manutenção do comércio local. Com as lojas fechadas e depois, com a redução do horário de funcionamento, buscamos uma forma de levar as pequenas empresas para o ambiente digital, até mesmo para inaugurá-las neste cenário que despontou ainda mais neste tempo de crise. O Vem Delivery foi a solução que encontramos para transicionar essas empresas de forma segura, menos burocrática e com redução de taxas.

Localizada no Bairro Rosário, a loja Luciana Marcos é uma das participantes da feira online. Comercializando roupas e sapatos, agora, a loja conhecida no bairro, tem cerca de 60% do seu faturamento oriundo das vendas pela internet.

- A inciativa é ótima e a procura está sendo muito satisfatória. Nós vendemos por todas as redes sociais. Todas as mercadorias que chegam, nós tiramos fotos e postamos com os tamanhos disponíveis e o valor. O cliente olha, escolhe o tamanho e nos manda pelas redes sociais o que ele quer exatamente. Nós apresentamos a mercadoria de forma online e enviamos - explica o gerente da loja, Sandro Ricardo Pippi.

Lojas participantes: 

  • Purific Santa Maria
  • Grupo Luciana Marcos
  • Camarão Express
  • Ótica Norberto
  • Redvis Óptica
  • Pérola
  • Panelas Rosso
  • Nara Simone
  • Xelymavi
  • Recanto dos Aromas
  • Reluz Ótica e Joalheria
  • Casa dos Pneus
  • Eko'7
  • Luiz Vera Confecções
  • Safira
  • Lilica & Tigor
  • Lojinha do Diário


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