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Vai passar

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Na prática da advocacia familiarista, no primeiro encontro com clientes, frequentemente me deparo com situações de visível sofrimento. O conflito nessa área atinge profundamente os envolvidos, muitas vezes gerando desespero. Na busca de fortalecê-los, normalmente utilizo a expressão "vai passar" e relato experiências onde a situação inicial é semelhante mas que, após algum tempo, é visível a recuperação. Acompanhei casos de mulheres e homens que, após uma sofrida relação e um difícil divórcio, apresentaram um verdadeiro rejuvenescimento e reencontraram a alegria.

Há momentos na vida em que o mais difícil é manter a esperança. É o que se percebe atualmente, decorridos sete meses dos danos provocados pela pandemia. Especialistas têm alertado para o abalo mental que vem vitimizando grande parte das pessoas.

No início parecia ter sido despertada uma onda de solidariedade que nos fez crer num mundo melhor. Campanhas foram lançadas e houve um grande engajamento a elas. As mensagens de otimismo e fraternidade se fizeram presentes especialmente na rede social. Mas agora a desesperança e o desânimo parecem predominar. Mais ainda, as agressões e embates polarizados pela internet se proliferaram.

Qualquer tema que é abordado, desde os dados estatísticos da pandemia, pesquisas sobre a vacina, tratamentos contra o vírus, retorno às aulas e até mesmo o preço dos alimentos, são motivos de polêmica e agressões verbais. Os profissionais do jornalismo têm sido os maiores alvos. Eles são constantemente atacados, independente da opinião que possam ter externado e mesmo quando simplesmente divulgam uma notícia de forma isenta.

O que fez a sociedade chegar a esse baixo nível comunicacional? Quando se perdeu o respeito com o outro? Onde estão os valores éticos e a própria educação que deveria nos caracterizar como seres racionais? Num dos momentos mais difíceis da humanidade, que certamente será o grande divisor de sua própria história, a intolerância e o conflito emergem. Em nome da liberdade de expressão essa prática nociva acabou por cerceá-la.

Em 2015, o filósofo italiano Humberto Eco afirmou que as redes sociais deram o direito à palavra a uma "legião de imbecis" que antes falavam apenas "em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade". Ocorre que essas vozes se multiplicaram através de pessoas que, escondidas por detrás de uma tela, revelam suas frustrações e ignorância.

A rede social deve ser um espaço democrático e respeitoso, servir como meio de comunicação sadio e educativo. Sua função social é inquestionável, por isso esse lugar deve ser recuperado. A legião de imbecis referida pelo filósofo é muito pequena frente à legião das pessoas de boa vontade e verdadeiros humanistas.

Que se recupere o espaço das boas novas, do conforto e da solidariedade. Se hoje o abraço não é permitido, ele pode ser substituído pela escuta e pela empatia, trazendo o reencontro com a esperança. Afinal, tudo passa e restará apenas uma mera lembrança

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