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PLURAL: os textos de Márcio Bernardes e Rony Cavalli

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A quem interessa a cegueira?

Márcio de Souza Bernardes
Advogado e professor universitário


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Em 1946, na primeira sessão da Assembleia Geral da ONU, foi adotada a Resolução 59 (1), que afirmava que "a liberdade de informação constitui um direito humano fundamental e (...) a pedra de toque de todas as liberdades a que se dedica a ONU". Assim, o direito à informação passa a ser um direito humano reconhecido como o fundamento de todas as demais liberdades. Além disso, a ONU reconhece que este direito deve ser exercido com a obrigação moral de pesquisar os fatos e "difundir informações sem intenção maliciosa". De lá para cá, a garantia, a defesa e a promoção do direito à informação é uma obrigação de todos os Estados vinculados à ONU. Em 2019, a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, afirmou que "o acesso universal à informação é um direito humano fundamental que desempenha papel central no empoderamento dos cidadãos, facilitando o debate justo e dando oportunidades iguais a todos", ou seja, trata-se de um direito ligado à democracia, à cidadania e às liberdades fundamentais.

Obrigação com a veracidade

A Convenção Americana de Direitos Humanos, de 1969, internalizada no Brasil pelo Decreto 678/92, em seu art. 13.2, impõe que "as autoridades precisam ser obrigadas por lei a disponibilizar de forma oportuna e razoável as informações geradas pelo setor público". A Constituição Federal de 1988, tratou do direito à informação nos seus arts. 5º, XIV e XXXIII, 37, §3º, II e 216, §2º, regulamentados pela Lei de Acesso à Informação (12.527/11). Este conjunto normativo obriga os órgãos públicos a prestar informações de interesse particular, coletivo ou geral, sob pena de responsabilidade. Diga-se, aliás, que não se trata de qualquer informação, mas de informação lastreada em dados, fatos e pesquisas. Há, portanto, uma obrigação com a veracidade das informações para garantir aos cidadãos participação social e política livre, consciente e responsável. O Presidente da República deveria saber disso. Talvez saiba e, por isso mesmo, se interessa tanto por desinformações e fake news.

O controle e a manipulação

O aparato de proteção internacional e nacional ao direito humano à informação é mecanismo de bloqueio a Estados totalitários, ditatoriais, fascistas, cuja arma principal para a restrição das liberdades sempre foi o controle e a manipulação de informações, ou mesmo a propagação da desinformação, para gerar uma cegueira deliberada com relação as mortes, torturas, desparecimentos, corrupção e benefícios pessoais de governantes. No livro Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, com a população em quarentena pelo vírus da cegueira "branca", um personagem fala: "os cegos estão sempre em guerra, sempre estiveram em guerra". Talvez seja isso o que o Presidente quer.

Paulo Guedes, nosso "lord of iron"

Rony Pillar Cavalli
Advogado e professor universitário


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O plano econômico do Ministro Paulo Guedes em muito se assemelha ao imprimido por Margareth Thatcher no início dos anos 1980, na Inglaterra, razão do título deste artigo, em uma alusão à Dama de Ferro dos Ingleses.

Thatcher pegou a Inglaterra mergulhada em dívidas, um Estado inchado, com serviços todos estatizados e um enorme número de empresas estatais empresariais, além da estagnação provocada por repetidas greves dos trabalhadores. Na Inglaterra antes de Tatcher, tudo passava pelo Estado, do simples serviço postal à indústria pesada.

O resumo do País da Rainha Elisabeth antes de Tatcher era de um país destruído pelo trabalhismo.

Embora em seu primeiro mandato - de 1979 a 1984 - tenha enfrentado vários problemas, com muitas greves promovidas pelos sindicatos de trabalhadores, conseguiu popularidade para se reeleger, popularidade esta especialmente decorrente da vitória na guerra com a Argentina pelo domínio das Ilhas Malvinas.

Em seu segundo mandato, Tatcher promoveu pesadas reformas sindicais e, principalmente, privatizou praticamente todas as estatais, razão pela qual é considerada a precursora do neoliberalismo. Com a reforma sindical tendo diminuído o poder dos sindicatos e com as privatizações tendo tornado o Estado Inglês mais leve, o resultado da sua política econômica passou a aparecer.

A potência econômica da dama de ferro

Em razão das reformas, as quais tiveram dentre outros efeitos o corte de direitos antes assegurados aos trabalhadores, os quais tornavam o Estado um "paquiderme" de peso insustentável, a premier mais popular do Reino Unido, teve sua popularidade desgastada e renunciou em 1990, após 11 anos à frente do governo inglês. A renúncia foi pressionada por George W. Bush, que não simpatizava com a Dama de Ferro e fora eleito presidente dos EUA em 1989.

Ganhou antipatias na esquerda, especialmente por sua agenda de combate ao socialismo/comunismo, mas a verdade é que foram as reformas promovidas por Ela que levaram a Inglaterra de uma sociedade arcaica e de economia estagnada à potência econômica, sendo hoje a 5ª economia mundial e um dos países com o maior IDH do planeta, contando neste quesito com 0,920 pontos. Os líderes do ranking do IDH, atualmente, são a Noruega, a Suíça e a Austrália, com 0,953, 0,944 e 0,939, respectivamente.

A agenda liberal e privatizações

A eleição do Presidente Bolsonaro foi uma autorização para a implementação de uma agenda liberal, iniciando-se pela privatização das estatais empresariais.

O plano econômico de Guedes, aliado à riqueza do País nos candidata a uma nova Inglaterra. God save Guedes!

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