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PLURAL: os textos de Márcio Bernardes e Rony Cavalli

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O Liberalismo à brasileira

Márcio de Souza Bernardes
Advogado e professor universitário


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Bons textos nos inspiram! É por isso que, hoje, inspirado pela coluna da página 8 do final de semana, do Diário de Santa Maria, escrita pelo amigo Giorgio Forgiarini, resolvi continuar no assunto. Com fino sarcasmo, a coluna faz uma crítica certeira ao típico "liberal" brasileiro, que esbraveja contra o Estado, mas não vive sem ele, tendo como exemplo Abraham Weintraub, o agora ex-ministro do MEC, que, aliás, contou com mais uma "ajudinha" do governo para fugir do país e ingressar por vias não ortodoxas nos EUA. E isso se explica: o liberalismo à brasileira surgiu, de cima para baixo, pelas mãos das próprias elites vinculadas ao Estado, e não de uma revolução liberal, como na Inglaterra, nos EUA e na França.

Na Europa

O chamado liberalismo surge, cultivado por segmentos da burguesia em ascensão, contra o absolutismo monárquico europeu, a partir do século XVII, baseado em três núcleos: um núcleo ético-filosófico, fundado nos valores da liberdade pessoal, do individualismo, da tolerância e dignidade; um núcleo econômico, fundado em propriedade privada, economia de mercado, minimização do controle estatal e iniciativa privada; e um núcleo político-jurídico, centrado em princípios como representação, divisão de poderes, soberania popular, direitos e garantias individuais, supremacia constitucional e Estado de Direito. Isto na Europa dos séculos XVII-XVIII.

No Brasil

A história do Brasil, do império à república, foi marcada por um liberalismo à brasileira, com uma especificidade bastante peculiar - o que talvez explique os Abraham da vida. Enquanto na Europa o liberalismo surge como uma ideologia revolucionária, articulada contra os privilégios da nobreza, o "nosso" liberalismo foi "importando" só como discurso, para aprofundar os privilégios das elites oligárquicas ligadas ao Estado, em especial os grandes proprietários de terras, os "donos" ciumentos do Estado. As ideias liberais brasileiras no século XIX expressaram tão-somente a necessidade de reordenação do poder nacional, como nos informa Francisco Weffort, em seu livro O Populismo na Política Brasileira. Toda a retórica liberal, sob a dominação das oligarquias, sempre trouxe um conteúdo conservador, contrário ao liberalismo europeu, o que fica claro com a defesa, pelos liberais à brasileira, da escravidão. Sim. Os liberais brasileiros, que impulsionaram a independência e depois a própria república, eram escravagistas, e isso pode explicar porque as estruturas nacionais, mesmo após a república, continuaram desconectadas de grande parte da população pobre, negra ou mestiça, marginalizada, despossuída. Aqui, numa tão brasileira gambiarra, juntou-se as "formas liberais" com as "estruturas" de conteúdo oligárquico e conservador. Isso talvez explique o "mistério" dos "liberais na economia e conservadores nos costumes". Isso explica os Abraham da vida e alguns vizinhos: os "liberais" brasileiros.

Reforma das instituições por dentro

Rony Pillar Cavalli
Advogado e professor universitário


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Ademocracia é complexa e os verdadeiros democratas precisam ser dotados de paciência e persistência, dando um passo de cada vez e mesmo que, aparentemente, o resultado pareça demorar, ao final, será possível ver que, não apenas o resultado veio, mas valeu à pena.

Pelo menos aqueles mais antenados e que costumam acompanhar a política nacional de perto sabiam que a luta seria árdua e não bastaria eleger o Presidente, especialmente em função do aparelhamento das instituições. É necessário continuar firme, jogando o jogo correto.

Nas últimas eleições parlamentares, o Congresso foi renovado em cerca de 50%. É necessário que não só sejam renovados os outros 50%, afastando da vida política as velhas raposas, como também sejamos cirúrgicos com nossas próximas escolhas.


A eleição e o início da luta


Elegemos um Presidente conservador, porém com sua eleição apenas iniciamos nossa luta e precisamos além de continuar apoiando o governo, sem tergiversar, nas eleições municipais dar o próximo passo que é eleger prefeitos e vereadores alinhados com os mesmos ideais, além de somente elegermos indivíduos dispostos a atacar distorções e privilégios deste Estado paquidérmico e autofágico.

As próximas eleições parlamentares, sejam as proporcionais ou a majoritária, me atrevo dizer que serão mais importantes que as presidenciais, pois se quisermos que as reformas tenham continuidade é necessário eleger deputados e senadores comprometidos com elas e apoio incondicional ao Governo e, com isto, diminuirmos o fardo do Presidente que está praticamente sozinho na luta e com um Congresso ainda atrelado ao establichment.

Novo ministro do STF

Aos que estão impacientes, torcendo que se adote medidas antidemocráticas para acelerar a transformação, lembro que dentro do jogo democrático e republicano, já em novembro o Presidente nomeará um novo ministro para o STF, o qual certamente será alguém conservador e, no já próximo ano, outra vaga e outro ministro será nomeado pelo atual Presidente. Este é o jogo a ser jogado. Um tijolo de cada vez. Com dois novos ministros nomeados pelo atual governo, o STF já ganhará novos ares.

Precisamos continuar a luta e sem nos rendermos para anseios que não sejam democráticos, esquecendo e até mesmo chamando atenção daqueles que, apesar de grupo pouco expressivo, acabam causando problemas com pedidos descabidos, como o fechamento do STF, do Congresso ou seja qualquer espécie de rompimento institucional.

Conservadores não são avessos a reformas e sim a rupturas. Mas com muita paciência e perseverança mudaremos o Estado por dentro e jogando o jogo democrático.

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