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OPINIÃO: Uma apologia democrática

Em textos anteriores, mencionei aqui neste espaço o quanto a democracia é difícil, custosa e delicada. Já afirmei aqui inúmeras vezes o quanto ela exige paciência, desprendimento e, sobretudo, altivez por parte dos próprios cidadãos, maiores interessados na sua consolidação. Mas não mencionei ainda os motivos pelos quais a democracia é tão importante. Por que, afinal, devemos arcar com o ônus de tantas liturgias democráticas? Ou melhor, por que democracia não deve ser encarada como apenas uma palavra bonita inserida em livros de ciências sociais e humanas, mas sim como um fim a ser incansavelmente perseguido por todos?

Listo aqui algumas razões: Primeiro, por autoproteção. Uma democracia de verdade é inclusiva, abrange e protege diferentes grupos, inclusive minoritários, garantindo que não sejam perseguidos ou vilipendiados por quem eventualmente esteja no poder. Isso é importante quando não se pode ter certeza quanto à nossa própria posição num futuro próximo ou nem tanto. Se hoje somos do grupo majoritário, pode ser que amanhã não sejamos mais, mas isso não há de ser problema se estivermos todos protegidos pelo manto da democracia. Segundo, por estabilidade. Regimes não democráticos podem até cumprir com suas promessas, mas apenas por um curto prazo. Proporcionam sentimento momentâneo de elevação moral, preservação da ordem e, às vezes, até prosperidade econômica, mas dificilmente persistem por muito tempo e normalmente terminam em colapso institucional generalizado.

A lógica é simples. Cedo ou tarde um grupo antes minoritário irá crescer, se organizar ou se unir a outros grupos também minoritários para fazer frente ao poder que os domina. Num ambiente não democrático, esse embate não se dará de maneira negociada ou pacífica, mas pela força, com a destruição das instituições criadas pelo regime anterior e a perseguição violenta dos que antes estavam no poder. Ademais, agradar aliados e combater descontentes faz com que um governo não democrático consuma grandes quantidades de energia e recursos, tornando-o ineficiente e vulnerável em maior ou menor grau a qualquer assédio oposicionista. Prova disso é que não existe na história recente da humanidade nenhum caso de regime não democrático que tenha se mantido pujante por período de tempo significativo. Terceiro, por minimização dos conflitos.

Numa democracia real, os conflitos, que obviamente não deixam de existir, são resolvidos na arena política, por meio de debates, deliberações e eleições que podem ser onerosos, demorados e, por vezes, frustrantes, mas são muito mais producentes que levantes armados e golpes de Estado. Não à toa Winston Churchill referiu que a democracia "é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras". Ela é importante e precisa ser protegida, não apenas por quem está no poder, mas por nós mesmos, os maiores interessados nela. Por isso essa minha apologia democrática intransigente. Para os males da democracia, a resposta só pode ser mais democracia.

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