Alguém disse certa feita que o populismo, mais do que uma estratégia política, é uma "síndrome". Essa afirmação foi reprisada por Ludovico Incisa, diplomata italiano, para referir que o populismo é não apenas um modo de se fazer política e ganhar eleições, mas um conjunto de sintomas de uma sociedade politicamente doente.
Tentando trazer alguma clareza ao tema, possível dizer que o populismo é uma degeneração da democracia e, via de regra, se baseia em dois pressupostos: A de que, se for da vontade do povo, tudo é possível, e de que só uma pessoa mítica, messiânica e iluminada é capaz de identificar essa vontade e atendê-la em sua plenitude.
Assim, o populismo desconsidera complexidades sociais. Para o populista, o povo não é composto de diferentes indivíduos, etnias, grupos ou classes com vontades, características e necessidades peculiares. É tão somente uma massa homogênea e uniforme, cujas vontades imediatas nem sempre racionais, devem ser satisfeitas imediatamente e a qualquer custo. Reside aí o maior risco do populismo: Ele não conhece dissidências ou minorias e distingue de maneira objetiva o "povo" do "não povo".
O "povo", na fantasiosa visão populista, é um grupo majoritário, formado apenas por pessoas pretensamente iluminadas, depositárias de todas as virtudes humanas. O "não povo", por outro lado, é formado por todos aqueles que, por questões étnicas, sociais, econômicas, ideológicas ou raciais, não ostentam, supostamente, as mesmas qualidades do "povo" e, por isso, acabam na periferia da sociedade. No pensamento de um populista, só a voz do que ele concebe por "povo" deve ser ouvida.
Apenas os desejos da maioria "de bem" são dignos de contemplação. As reivindicações daqueles que compõem o "não povo" são absolutamente desconsideradas, quando não frontalmente combatidas. Pior do que isso, o líder populista se empenha ativamente em convencer o grupo majoritário de que este é especial e merecedor de benesses que os outros não fazem jus.
Ele adula o grupo que lhe dá suporte político, ao mesmo tempo em que detrata os que a ele se opõem, muitas vezes atribuindo-lhes defeitos, como a indolência, a malandragem e a subversão. Por isso, em regra, o populismo acaba por acentuar sentimentos discriminatórios, como racismo, machismo, xenofobia e homofobia. O mundo já viu dezenas de regimes populistas. Na Alemanha, na Itália, na Espanha, em Portugal e também aqui no Brasil. Os resultados, todos sabemos, foram sempre catastróficos.
Parece, no entanto, que não nos vacinamos contra esse mal. O discurso populista (e discriminatório) está cada vez mais em voga e deve pautar as eleições em 2018 que, ao que tudo indica, serão tratadas como uma luta do bem contra o mal. De toda essa confusão ideológica, sobram dúvidas quanto a quem está no lado do bem e quem está do lado do mal. Uma certeza, no entanto, ainda persiste: A de que o populismo jamais será sinônimo de democracia.