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OPINIÃO: Não está tudo bem!

A principal ferramenta de um médico é o diagnóstico; a do jornalista, a pergunta; a de um professor, o método; a de um advogado, o argumento; a de um cientista, a evidência. Gestores públicos deveriam achar menos e conhecer mais sobre a realidade em que atuam, combinando empiria com o processamento apurado e a análise criteriosa de dados, informações e conhecimentos. Infelizmente não tem sido assim. Também por isso é possível afirmar: "não está tudo bem...".

Não está tudo bem, quando cem dias depois do início do atual governo federal, o Brasil está sem MEC, sem o Ministério da Educação, como disse na semana passada Priscila Cruz, líder do movimento Todos pela Educação, às vésperas da assunção de novo ministro da Educação. Não está tudo bem quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que mais pessoas ficaram pobres e desassistidas entre 2016 e 2017 (quase 55 milhões!). Não está tudo bem em um país em que 13 milhões de pessoas estão desempregadas, a despeito de o presidente da República brigar com os números, alegando que eles, sempre eles, estão errados!

O primeiro passo para enfrentar os problemas, sem quais forem, é o de reconhecer a sua existência, em vez de negá-los, identificando as causas que lhes subjazem. Inobstante, é isso que insistimos em fazer reiteradamente no Brasil. "Tapar o sol com a peneira". Ignorar as dificuldades somente aprofunda nossos fracassos como  povo  e  nação  historicamente espoliada e maltratada,  inclusive  com  um  brutal complexo de vira-lata propalado desde àqueles que deveriam liderar mudanças e transformações.

Não está tudo bem no momento em que uma família é alvejada com 80 tiros por uma guarnição das Forças Armadas no Rio de Janeiro e as principais autoridades daquele Estado e do Brasil, no lugar de rechaçar o ocorrido, exigindo a mais rigorosa e austera investigação, com a consequente responsabilização dos culpados, tergiversam sobre o assunto, diminuindo a extensão da barbárie.

Sem educação de qualidade e segurança para ir e vir, a própria condição humana é afetada, sobretudo daqueles corpos de homens, pobres e negros, alvos preferenciais da violência urbana e da praticada, cotidianamente, contra agentes de Estado, como mais uma das tantas tragédias anunciadas que vitimam fatalmente civis e policiais no nosso país.

Não está tudo bem ao se marginalizar o papel do professor e da escola pela defesa inconsequente da educação domiciliar ("homeschooling"), falaciosamente guindada à prioridade nacional entre tantas e verdadeiras necessidades que afligem docentes e discentes de todas as partes do Brasil. Não está tudo bem, porque dezenas de conselhos com a participação da sociedade civil junto à União forem extintos na semana finda com uma canetada.

É preciso coragem para continuarmos a nos fazer as perguntas certas para construirmos, coletivamente, as melhores respostas para a humanidade.

DESPEDIDA

Quase 70 artigos depois, despeço-me hoje deste espaço pela absoluta impossibilidade de conciliar, com o respeito devido a ti, leitor(a), a produção desta coluna quinzenal. Agradeço à direção do Diário e aos seus competentes profissionais por essa incomensurável oportunidade. Continuemos com um pé nestas terras e o olhar no horizonte para avançarmos rumo a uma cidade, um Estado e um Brasil melhor. Até a próxima!

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