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OPINIÃO: Goiabas, laranjas e moleques

Prestes a completar dois meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro vive dias turbulentos. A gestão do capitão ainda não engrenou e parece mais com aquele carro que trafega com gasolina adulterada. O veículo anda um pouco e falha. Nem o filtro resiste, muito menos os bicos injetores e as velas de ignição. Apesar da disciplina e da força dos ministros militares - e creio que eles podem salvar o governo de B17 -, é muita rusga, bate-boca, manifestações equivocadas e falta de unidade, principalmente por parte dos subalternos da área política e dos filhos do presidente, Flávio, Eduardo e Carlos.

O caso do ex-assessor Fabrício Queiroz envolveu diretamente Bolsonaro e seu filho Flávio, eleito senador pelo PSL, por causa de movimentações financeiras e transações imobiliárias atípicas. Sem falar que Flávio é apontado, também, de ter ligações com milicianos do Rio de Janeiro, acusados de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), ocorrido há mais de 11 meses. Recentemente, a Folha de São Paulo revelou que o ministro do Turismo e deputado federal do PSL, Marcelo Álvaro Antônio, patrocinou um esquema de candidaturas laranjas em Minas Gerais. Após, Luciano Bivar, deputado federal e atual presidente do PSL, usou uma candidata laranja em Pernambuco para receber 400 mil reais de dinheiro público. Sobrou, desta vez, para o deputado Gustavo Bebianno, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência e ex-presidente do PSL, como o responsável por controlar e ter liberado o repasse nacional da verba.

Depois de dizer ter visto Jesus em um pé de goiaba e que meninos vestem azul e meninas vestem rosa, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, pediu que os pais de meninas fujam do país como antídoto para a brutalidade. A declaração foi dada na sexta-feira (15), em entrevista à Rádio Jovem Pan de João Pessoa (PB). "A gente vê um quadro que vamos precisar mudar. Recebemos uma pesquisa que diz que o Brasil é o pior lugar da América do Sul para criar meninas. Vejam só: se eu tivesse que dar um conselho para quem é pai de menina, mãe de menina? Foge do Brasil! Você está no pior país da América do Sul para criar meninas", disse Damares.

Sobre o comportamento inadequado dos filhos de Bolsonaro, coube ao vice-presidente, general Hamilton Mourão, dar um conselho: "Os filhos são um problema de cada família. Tenho certeza que o presidente, em momento aprazado e correto, vai botar ordem na rapaziada dele". Aliás, Mourão tem agido com serenidade nas questões que envolvem o governo, bem ao contrário do clã Bolsonaro. Creio que o clima de desordem incomoda demais os militares e só serve para gastar energia à toa, diante de problemas mais complexos para o atual governo resolver.

Bolsonaro precisa entender que ele é agora presidente da República e os holofotes estão todos voltados para a sua figura. Mais do que "botar ordem na rapaziada dele", Bolsonaro necessita agir como dirigente máximo e ter uma postura adequada. As principais comunicações do governo feitas pela sua conta do Twitter são insuficientes. O mundo real exige interação olho no olho e não apenas pela Internet.

Como observa Guilherme Boulos, que concorreu à presidência da República em 2018, "Bolsonaro foi eleito vendendo a falsa esperança de ´limpar´ o país da corrupção. As milhões de pessoas que apertaram 17 agora assistem às denúncias de um governo desorientado... Conforme vai ficando claro que a verdadeira agenda é retirar direitos e não combater a corrupção, a crise pode sair do Twitter e ocupar as ruas".

O que menos Bolsonaro e seu governo precisam, no momento, são goiabas, laranjas e moleques.

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