opinião

OPINIÃO: Gervásio Baptista e a fotografia

Conheci o Gervásio em Brasília, naquele tribunal do qual não sinto saudade. Do Gervásio - que se foi no início deste mês, na manhã do dia 5 - sim. Saudade de amigo, aguardando nos reencontrarmos em uma fresta do tempo e/ou lá em cima.

Relembro momentos notáveis. Ele trabalhava no tribunal, fotografando sessões e seus artistas. Contei-lhe que abandonara a fotografia quando, no início dos anos 70, deixei de lado a minha Rolleiflex e decidi dedicar-me à Faculdade de Direito das Arcadas do Largo de São Francisco e à advocacia. Ele me disse então que eu voltaria a ela quando deixasse o tribunal, o que realmente aconteceu!

Hoje divido meus dias entre o computador, a escrever isso e aquilo, e minhas Hasselblad e Leicas.

Nossas conversas eram formidáveis. Ele relatando momentos inesquecíveis que viveu, como o da foto que tirou do Presidente Juscelino acenando com a cartola para o povo na inauguração de Brasília, no dia 21 de abril de 1960. Que loucura! Dou-me conta agora de que o que estou a escrever será publicado na edição do  nosso  Diário  de  Santa  Maria de 20 e 21 de abril que vem, 59 anos depois!

Repito, nossas conversas eram divertidíssimas, sem travas na língua. Criticávamos tudo e o todo que nos cercava, palavras bem grandes (palavrões) em profusão. Ele efusivo, eu rindo sem parar!

Tenho muito a contar, mas certo episódio é inesquecível. Assisti quase de perto, na entrada dos fundos do STF, um reencontro inesperado entre ele e o Mauro Salles. Não se viam há muito, embora fossem amigos desde os anos 50, tenham estado juntos na cerimônia de posse do Juscelino e em viagens jornalísticas pelo mundo afora.

Gervásio rodou o mundo. Em Havana, no início da Revolução Cubana, sacou fotos de Fidel Castro e Che Guevara. Em Lisboa, momentos da Revolução dos Cravos. Da Guerra do Vietnã e de inúmeros concursos de Miss Universo e muitas Copas do Mundo!

Ainda jovem Assis Chateaubriand o levou de Salvador, onde ele nasceu, para trabalhar na revista O Cruzeiro. Dali, anos depois, para a Manchete. Toda a nossa história no tempo do agora e um pouco antes foi capturada pelas suas lentes.

Sacou inúmeras fotos dos nossos presidentes desde Getúlio Vargas (sinto uma vontade danada de confirmar com ele se aquela do Oswaldo Aranha no enterro do Getúlio é dele, mas por enquanto não posso!). Além de inúmeras outras, a última foto de Tancredo Neves, de pijama e roupão, tendo ao seu lado a equipe médica do Hospital de Base do Distrito Federal.

Soube da sua partida momentos antes de encontrar o Trípoli, na tabacaria do Beto, como se ali estivéssemos - os três! - a jogar conversas fora.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

OPINIÃO: Participação da sociedade civil:decreto bloqueia possibilidades Anterior

OPINIÃO: Participação da sociedade civil:decreto bloqueia possibilidades

OPINIÃO: Os desafios para os que creem Próximo

OPINIÃO: Os desafios para os que creem

Colunistas do Impresso