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OPINIÃO: Eleição sem partidos


Indesmentível que vivemos em uma democracia, mas também não pode ser negado que nossa democracia vive uma séria crise de identidade. O eleitorado está perplexo ante a falta de opções políticas. Os três poderes, cada um ao seu modo, mostram-se fragilizados e desarmônicos entre si. Estamos a três meses das eleições e não há qualquer definição de candidaturas. A imprensa é livre, mas os grandes grupos empresariais que lideram a comunicação de massa no país estão comprometidos em influenciar a população, ao ponto de suas linhas editoriais serem nitidamente parciais, embora se arvorem em dizer o contrário.

Mas a democracia respira, com dificuldades, mas respira. Os governantes são eleitos, bem ou mal, mas sempre pelo voto livre e direto. Em número de eleitores, somos a segunda maior democracia do mundo ocidental, mas nos faltam partidos políticos, apesar do número inflacionário de legendas.

Partido pressupõe linha programática, unidade mínima de pensamento dentre seus membros, disciplina para concretização de seus ideais no parlamento e no Executivo. As legendas não passam de mero agrupamento de pessoas com alguns interesses em comum e muitos interesses pessoais. Chamamos de partido aquilo que não passa de uma legenda eleitoral, que serve tão somente para legitimar candidaturas, visto que nosso sistema eleitoral exige que o candidato esteja filiado a uma agremiação política, sem que isto signifique qualquer comunhão de ideais entre os integrantes de uma mesma grei. Muito pelo contrário, dentro de uma mesma legenda convivem as mais antagônicas propostas políticas. Podemos tomar como exemplo qualquer das principais siglas partidárias para constatar que o descumprimento do programa partidário beira 100% e o nível de disciplina beira zero.

A eleição faz com que as alianças tornem o quadro ainda mais confuso. O que era inconciliável termina em coligação, com o objetivo de ampliar o leque eleitoral e garantir a vitória. E o que é pior, o lado que vence a eleição termina atraindo os adversários, com a força dos cargos e verbas.

Temos, na verdade, dois grandes partidos no Brasil: a Situação, que tem os cargos, e a Oposição, que deseja tê-los. Também há absurdos como numa mesma legenda políticos dividirem-se entre situação e oposição. A maioria dos que estão na oposição fariam qualquer coisa para serem convidados para sentarem-se à mesa do poder. Isto se observa tanto nos níveis federal, estadual e municipal.

Na eleição que se aproxima, mais uma vez há grande ausência de partidos. O destaque ficará com os candidatos, filiados formalmente a uma sigla partidária, que importa absolutamente nada no contexto. Aliás, muito mais importante é a agência de publicidade que cuidará da campanha do candidato.

Os partidos estão de tal forma desmoralizados que não exercem qualquer controle sobre seus filiados. Por outro lado, não existe a mínima seleção daqueles que desejam concorrer. Qualquer um, exótico, cômico ou até mesmo com sérias suspeitas quanto ao seu comportamento ético ganha espaço para vir mostrar o rosto na televisão.

A democracia respira, mas poderá sofrer sério revés quando o povo perder a ilusão de que é protagonista do processo político e dar-se conta de que não passa de massa de manobra de uma oligarquia, constituída de um grupo de pessoas que domina os Poderes da República usando o nome do povo em vão. A responsabilidade é de todos nós.

Não é inteligente esperar que aqueles que sempre agiram de uma forma espoliativa irão se transmutar em favor do povo. Não será o voto nulo ou branco que poderá limpar a política, mas o voto consciente que perceba a diferença entre o prometido e o que será entregue.

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