opinião

OPINIÃO: A família na rede social

Com um chamativo título acompanhado de fotos, um pai mostra no Facebook a festa de aniversário de seu filho, sem a presença do aniversariante. Convidados frente à mesa decorada e do painel de felicitações, mas o homenageado não estava presente. No texto, ele denuncia que a mãe não autorizou a presença da criança. Seguem-se comentários de solidariedade e de repúdio à atitude da genitora, bem como relatos de situações semelhantes.

A expressão "alienação parental" é frequente, mostrando a vulgarização de uma terminologia até bem pouco tempo desconhecida, mesmo nos ambientes jurídicos. Seguem-se muitos compartilhamentos, inclusive por uma conhecida revista. Na busca de maiores detalhes, o jornalista traz a versão da mãe, que relata a luta judicial na busca dos alimentos para o filho e a falta da assistência material do pai, motivos pelos quais tomou a decisão de não permitir a presença da criança na festa organizada por ele.

Em outra postagem, um pai reclama veementemente do pouco tempo que lhe é permitido passar com a filha, pois, segundo ele, a mãe não autoriza outros horários para essa convivência. Oculta, porém, o fato de que foi revel na ação ajuizada para regulamentação da guarda e visitação, eis que achou excessivo o valor dos honorários advocatícios e não se sentiu encorajado para enfrentar a "fila" dos pretendentes à assistência judiciária junto à Defensoria Pública.

Um ex-marido telefona para a ex-esposa e ameaça postar na rede social a filmagem de momentos de extremo conflito entre o casal, com situações constrangedoras para a mulher, numa verdadeira "chantagem" na busca de seu intuito.

A família desconstruída e em situação de litígio encontra na rede social um novo e perigoso espaço para exposição de sua vida privada, esquecendo das terríveis consequências dessa atitude, especialmente em relação às crianças que impiedosamente são expostas.

A tecnologia disponibilizou para toda a sociedade instrumentos antes somente reservados para uma área especializada, que detinha séculos de regulamentações legais e éticas frente à responsabilidade da comunicação social. O ambiente hostil que circunda a rede social é evidente. Ela revela um lado obscuro do ser humano, que critica e julga tudo e todos, sem refletir e sequer conhecer a fundo aquele fato sobre o qual se posiciona.

Ocorre que agora essa postura vem atingindo o lado mais privado e íntimo de todos: o ambiente familiar. As delegacias especializadas, a sala de audiência nas Varas de Famílias, os escritórios de advocacia, os consultórios dos psicólogos e os grupos de mediação não são suficientes. A rede social passou a ser um confessionário, palanque das denúncias e megafone das mazelas. Porém, as vítimas desses atos são os entes familiares, que possuem entre si um vínculo forte e vitalício. Em especial, as maiores vítimas são as crianças, que se transformaram em instrumentos nas mãos daqueles que deveriam ser os primeiros a proteger sua privacidade e saúde mental.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

OPINIÃO: Dalai Lama tem razão! Anterior

OPINIÃO: Dalai Lama tem razão!

OPINIÃO: Pausa para respirar Próximo

OPINIÃO: Pausa para respirar

Colunistas do Impresso