opinião

OPINIÃO: Pausa para respirar

Uma pausa para respirar. É assim que sinto nossa Feira do Livro nestes tempos de retrocesso e obscurantismo. Quando o presidente da República alardeia a necessidade de que se jogue na lata de lixo das escolas e universidades o ensino de Filosofia e de Sociologia,  obscurantismo,  parece-me,  é  palavra mais que se deve utilizar para caracterização de semelhante sandice.

O que querem, afinal? A perpetuação da miséria material e intelectual? A permanência de um modelo "papagaio" de ensino, que se limite à repetição do que está posto, sem qualquer possibilidade de discussão e análise crítica? A manutenção do status quo que faz de nosso país um país dependente do conhecimento externo e mero produtor de commodities? A continuidade de um país torto, desigual, campeão de má distribuição de renda e de riqueza? De um país, que, no século 21, é estruturado na forma de feudos, onde, em detrimento das hordas de miseráveis que vicejam nos desvãos do processo civilizatório, tudo podem seus senhores?

Se continuarmos assim, não duvidem, acabarão por proibir feiras de livros e debates que instiguem a dúvida e os questionamentos  indispensáveis  à  formação  de cidadãos pensantes, livres de grilhões político-ideológicos  deformadores  da  cidadania, e capazes de construir convicções solidificadas no conhecimento que leva ao diálogo, único caminho para o entendimento e a pacificação social.

Há décadas acompanho a Feira do livro - até já fui seu Patrono - e a vi ressurgir (houve, antes, edições na primeira metade da década de 1960) no distante ano de 1973, como grito de alerta, de inconformismo, e iluminado ato de resistência na escuridão então reinante. Idealizada, naquela oportunidade, pelos alunos do segundo ano do Curso de Comunicação Social da UFSM (turma de muitos e queridos amigos), a corajosa empreitada foi o embrião da feira que é hoje o maior evento cultural do município. Por isso, a vinculação dos temas: livro é possibilidade de aquisição de conhecimentos que humanizam e libertam.

Mia Couto, grande escritor moçambicano, que pôs seu talento e criatividade a serviço da causa de seu povo e de seu país, em discurso proferido na entrega do Prêmio Mário Antônio, da Fundação Calouste Gulbenkian, em 12 de junho de 2001, ao falar de sua obra, disse: "O último voo do flamingo fala de uma perversa fabricação de ausência - a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperança praticado  pela  ganância  dos  poderosos. O avanço desses comedores de nações obriga-nos a nós, escritores, a um crescente empenho moral. Contra a indecência dos que enriquecem à custa de tudo e de todos, contra os que têm as mãos manchadas de sangue, contra a mentira, o crime e o medo, contra tudo isso se deve erguer a palavra dos escritores."

A propósito, fazendo um passeio ficcional, com toques de melancolia, pela nossa história recente e pelas nossas raízes, Carlos Rangel, Francisco Ritter, Tex Jr., Orlando Fonseca, Raul Maxwell, Ronaldo Lippold, Vitor Biasoli e eu lançaremos, quinta-feira, dia 2 de maio, a partir das 17 horas, na Feira, o livro Baixada Melancólica - contos da Depressão Central. Na dúvida, aproveitem a pausa e nos prestigiem.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

OPINIÃO: A família na rede social Anterior

OPINIÃO: A família na rede social

OPINIÃO: Precisamos falar sobre a maconha Próximo

OPINIÃO: Precisamos falar sobre a maconha

Colunistas do Impresso