Sempre se ouviu dizer que a Bíblia é onde está contida a palavra de Deus. Mas, será, realmente, a Bíblia a palavra de Deus? Esta, aliás, é uma questão tão instigante quanto polêmica. Digo instigante, pois que rende assunto para uma discussão interminável e polêmica porque suscita dúvidas até mesmo dentro do próprio cristianismo como acontecido no fato que narro a seguir: Um dia, um padre, em um debate num canal de televisão, disse, com todas as letras, o seguinte: "A Bíblia se explica por si só, pois sua mensagem principal está no Novo Testamento, a partir de Jesus, quando Ele ensina que a lei do amor é a lei que rege todas as coisas e ponto final", concluiu o padre. Vejam bem, ele referiu-se ao Novo Testamento, como aquele que apresenta o Deus infinito (repito, infinito) em amor, sabedoria, bondade e justiça, substituindo aquele deus vingativo, vaidoso e cheio de melindres que matava e mandava matar, bem aos moldes dos humanos de todas as épocas, inclusive da nossa.
Pois, contrariando a lógica das palavras do padre, proliferam, cada vez mais, religiões que ensinam aos seus fiéis conceitos firmados há mais de 2 mil anos e que hoje caem por terra se analisados à luz da razão. Pior do que tudo isso, só mesmo a imposição de que tudo de ruim que nos acontece é obra do demônio e que tudo de bom é obra de Jesus. Todo o raciocínio simplista é desprovido de análise crítica possibilitando assim uma margem maior de erro que é o que acontece com algumas passagens da Bíblia e que são aceitas tal qual estão escritas sem um mínimo interesse em interpretá-las e, fundamentalmente, localizá-la no tempo. Essa forma induz a aceitação de uma série de coisas que nela estão contidas e que eram proibidas na época, e que ainda hoje, em pleno século XXI, continuam vigentes, como não fazer transfusão de sangue, mesmo que, ao contrário daquela época, sirva para salvar vidas. Além desta proibição, outras foram incorporadas ao longo do tempo, como mulher não poder usar calça comprida sob o pretexto de que isso é vestuário para homens, ainda que sob o frio de um inverno rigoroso e tantas outras que não se coadunam com o tempo em que vivemos hoje. Isso, na maioria das vezes, se deve à leitura da Bíblia, o livro mais lido do mundo, ao melhor estilo "decoreba", sem uma mínima preocupação em situá-la no tempo em que foi escrita, fundamentalmente o Velho Testamento que trás um deus completamente diferente do Deus trazido por Jesus e retratado no Novo Testamento. Infelizmente, parece que as pessoas tem receio de interpretar os "textos sagrados" e, com isso, negando a si próprios, e sem medo, o direito de colocá-los ao crivo da razão e do bom senso.
Depois de tudo isso, talvez você possa pensar que sou contra a leitura da Bíblia. Se pensou assim, enganou-se redondamente. Sou absolutamente favorável, pois graças a ela, mais exatamente através do Novo Testamento, conhecemos uma pequena parte da obra divina do espírito mais elevado que pisou na Terra em todos os tempos: Jesus! Ele, com sua postura espiritual elevadíssima, amava a todos indistintamente, instruía e instigava não só a pensar sobre o sentido das suas parábolas, mas, principalmente, raciocinar sobre elas visando entender os seus ensinamentos bem aos moldes da essência da Doutrina Espírita que diz:
"Amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo." Essas duas regras de comportamento encerram, de forma sucinta, toda a "palavra" de Deus. O "amar-se" por si só dispensa qualquer comentário, pois é o ato mais sublime e elevado a ser conquistado por todo o ser humano ainda que estejamos muito atrasados em amar o próximo, pois que amamos de forma muito intensa a nós próprios. Já, o "Instruir-se" requer estudo crítico, análise ponderada e raciocínio baseado na razão e no bom senso em busca da "verdade verdadeira", nos permitindo, de forma clara e insofismável, entender as sábias palavras de Jesus quando disse "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertara". E, ainda hoje, absurdamente, é o que nos falta: conhecer a verdade para nos libertar do medo do castigo de Deus.