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Em tempo de mobilizações, chilenos merecem atenção

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Vivemos um tempo de surpreendentes mobilizações populares. As redes sociais possibilitam em maior intensidade o chamado "efeito manada", multidões movimentando-se ao sabor de emoções instantâneas nem sempre bem racionalizadas. Também permitem que grandes mobilizações ocorram sem organização e liderança definidas, intensas no protesto e sem consenso sobre pauta positiva a ser buscada. Isto foi comum nos grandes movimentos dos últimos anos, na chamada "Primavera Árabe", no Brasil de 2013 e nas recentes manifestações de massa em diferentes continentes.

Os estudiosos apontam que a internet, com seu cipoal de possibilidades boas e ruins, sua mistura de informação profunda e rápida com manipulações e falsidades, mais o magnetismo sobre indivíduos e coletividades, vem colocando em desafio a organização democrática mais tradicional de nossas sociedades, suas instituições, normas e limites.

Estamos em momento de transição com mais interrogações e menos respostas, mais angústias coletivas do que certezas.

Nesse quadro, as últimas semanas revelam a crise psicossocial e política atingindo nação que, para vários arautos do neoliberalismo e da hegemonia do mercado sobre as pessoas, era bela "laranja de amostra" em nossa América Latina: o Chile.

Tido como sucesso econômico e equilíbrio fiscal, com privatizações até em sensíveis áreas sociais (como previdência, educação, saúde), escondia - muitos sabiam, poucos se arriscavam a falar - abismo crescente de desigualdade, suicídios entre desamparados na velhice (aqueles que não conseguiram capitalizar aposentadoria minimamente capaz de garantir sobrevivência), multidões de jovens de origem humilde sem acesso aos meios necessários para o crescimento pessoal. Tudo isso explodiu de forma intensa e desorganizada a partir da fagulha no aumento em passagem do metrô.

A crise chilena tem lá suas peculiaridades e não se sabe onde irá confluir. Todavia, serve de alerta e deixa lições. Não se pode olhar uma nação ou qualquer sociedade de humanos apenas pelo lado financeiro. A responsabilidade fiscal é, sim, importante nas famílias, nas organizações privadas e estatais no país. Mas, não pode ser excludente nem única. Não se pode pensar em previdência social somente pelo lado da "potência fiscal", novidade denominando a economia financeira. É preciso lembrar que dela vai depender a sobrevivência das pessoas e que os pobres não terão como garantir aposentadoria minimamente suficiente a vida digna num regime de capitalização. Foi assim no Chile.

Enfim, não se pode perder de vista que o mercado é uma das tantas criações da humanidade e não sua divindade. Que suas ambições nem sempre coincidem com o interesse coletivo. E que vida digna para todos, acesso a direitos básicos e oportunidades, são deveres e razão de ser das políticas públicas. Ou a ira coletiva um dia cobrará.

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