Opinião

A universalidade da nossa aldeia


A primeira vez que pisei num CTG foi a convite de um colega de escola. Estava no atual Ensino Médio, tinha uns 14 anos. Gostei tanto da experiência que pedi aos meus pais um vestido de prenda. Mais do que depressa, eles providenciaram meu primeiro vestido, rosa, cheio de babados e fitas.

Naquele espaço cultural, aprendi mais do que dançar. Aprendi a olhar para a arte e a cultura do Sul como parte importante de nossa identidade. Aprendi a ouvir e a gostar da nossa música.

O tempo passou, muita água rolou, a vida tomou outros rumos, e eu sempre carreguei comigo aquele sentimento de pertencimento. De quando você conhece a história de que faz parte. Não parece, mas faz diferença. Esta terra tem muitas histórias e está ligada às nossas vidas, com certeza.

Há uns quatro anos, me vi novamente, no mesmo Centro de Tradições Gaúchas, o Sentinela da Querência, da minha adolescência, porque uma coleguinha do meu filho o convidou para fazer parte do grupo de danças pré-mirim. Estava faltando peão para fazer par com as meninas. Então, neste período tenho assistido a inúmeras apresentações de música e dança gaúchas. Mais do que isso, tenho sido testemunha do esforço de jovens professores que ensinam a essas crianças mais do que um passo de Maçanico. Esses ensinamentos vêm carregados de valores e conhecimento que trazem toda uma história: a de dois meninos, alunos do Colégio Júlio de Castilhos em Porto Alegre, que no final da década de 40 resolveram pesquisar e divulgar nossas raízes culturais. Paixão Côrtes e Barbosa Lessa fizeram muito mais do que criar um movimento tradicionalista.

Nesta semana, sentada na lateral da pista do CTG, eu observava os diferentes grupos que desfilavam seus talentos nas danças, no canto e na chula, e me veio na lembrança toda esta história. A importância dos grupos do Pezinho e do Balaio que aqueles dois estudantes criaram lá nos idos de 1949. Observava, do meu canto, a beleza e a universalidade da música e da dança e como elas integravam as pessoas de idades tão diferentes de forma tão harmônica. No mesmo espaço, conviviam, dançavam e se divertiam todas as gerações, do netinho ao vovô.

Pensei na hora: toda escola deveria ter um departamento de arte e cultura gaúcha. Não é bairrismo, assim como as escolas de cidades de colonização alemã têm o ensino dessa língua introduzida no currículo escolar. Como diz o próprio Paixão Côrtes, o maior mérito de um povo civilizado é não apenas compreender-se a si mesmo, mas compreender a si mesmo de forma a compreender os outros. A educação, a arte e o esporte são nossas armas para enfrentar a violência e a falta de esperança que testemunhamos diariamente. É na infância que podemos mudar este caminho, com um olhar interessado e ações que envolvam as crianças no mundo de conhecimento, da arte e da cultura, que despertem o que elas têm de melhor. Se queres ser universal começa por pintar a tua aldeia. É uma verdade que não pertence mais a Tolstói. Precisamos renovar valores para melhorar a própria humanidade, começando pelo nosso quintal.


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