data-filename="retriever" style="width: 100%;">"A quem falarei hoje? Os corações são violentos, e cada um toma seus bens de seu irmão. A quem falarei hoje? O homem que te põe furioso por sua maldade é querido por muitos, por mais baixa que seja sua infâmia. A quem falarei hoje? O patife converteu-se em homem de confiança; o irmão com o qual se conviva converteu-se em inimigo. A quem falarei hoje? O mal que fere este país não tem fim." (Diálogo de um desesperado com sua alma, da antiga literatura do Egito dos Faraós).
As perguntas são atuais e pertinentes aos dias do mundo atual e, em especial, ao momento brasileiro.
A política foi lentamente entrando em processo de decadência e a esmagadora maioria da população a encara com desdém, pois cada vez mais ela se restringe a grupos de interesses corporativo ou econômico. A máquina estatal parece funcionar prioritariamente em favor dos interesses de suas corporações, distanciando-se cada vez mais daquilo que é seu fim último: a prestação do serviço público. Os rentistas, que vivem exclusivamente de rendimentos, dominam o Estado com foco em seus ganhos, despreocupados com as agruras da grande maioria que luta para viver com dignidade.
Nosso país está submerso no sofrimento, enquanto o interesse público está reduzido à disputa entre duas facções ideológicas, que demonstram mais preocupação em ganhar o debate (e as eleições) do que apresentar solução para os problemas que esmagam a população.
Os contendores políticos tornaram-se "combatentes", riem com ar insano das desgraças do outro e até mesmo não respeitam a dor alheia e funerais. As palavras são como fogo para os corações da maioria atônita diante de tanto ódio.
O país tem 13 milhões de desempregados. No Rio Grande do Sul o funcionalismo recebe em dias incertos e com atraso. Além de desculpas, o que se diz sobre isto? A reforma trabalhista alavancaria o emprego. Foi aprovada e nada melhorou. A reforma da Previdência era o remédio para todos os males. O que trará esta reforma? Redução no valor das aposentadorias, dificuldades para conquistá-la. Ou seja, mais uma pá de terra sobre as esperanças de uma vida melhor. Mas não é tudo. Já se fala numa nova reforma trabalhista e é anunciada uma reforma tributária, que passará longe da redução da carga de impostos. Talvez apenas simplifique e aperfeiçoe as formas de arrecadação.
Esta decadência vem sendo produzida lentamente, com a gradual queda da qualidade do debate político, que parece ter começado quando a atividade política passou a ser mercado de trabalho e porta de acesso à riqueza. Esta foi uma das encruzilhadas que nos trouxeram até este estado de coisas. Os partidos são meras legendas imprevisíveis como birutas de aeroporto.
Resta-nos a esperança de que este ciclo nefasto não se prolongue