colunista do impresso

A escola possível

style="width: 100%;" data-filename="retriever">

Uma antiga história conta que um viajante do tempo, ao se transportar para o futuro, se deslumbrava com a tecnologia em todas as áreas, até o momento em que entrava numa sala de aula. Nela encontrava alunos enfileirados, o quadro de giz e o professor dando sua aula expositiva. Podemos contrariar esse enredo com coragem e vontade política.

No início dos anos 1990, ao integrar a equipe da Smed de Santa Maria, conheci a realidade do ensino rural: escolas de madeira, sem energia elétrica e na sala de aula um fogão no qual a professora preparava a merenda para uma classe multisseriada. Algumas sequer tinham acesso por estradas, tão isoladas que as crianças fugiam do contato com as pessoas estranhas.

Essa realidade foi mudada com a implantação do projeto de nuclearização das escolas rurais, uma proposta pedagógica inovadora e diferenciada.

Em razão do pouco espaço, não tenho como nominar os responsáveis por essa transformação, mas os que conheceram o trabalho certamente não os esqueceram. Essa nova prática educacional, com forte investimento no transporte escolar, trouxe grande desenvolvimento para as regiões onde as escolas núcleos se localizaram.  O modelo de ensino se multiplicou pelo estado, e até hoje integra a modalidade de acesso à educação básica em várias comunidades rurais.

Na época, tive oportunidade de participar de vários encontros sobre política municipal de educação. Num deles houve a participação de secretários que recém haviam assumido seus cargos. Nesse encontro foi proposto um exercício de reflexão com três perguntas: Qual a escola que temos? Qual a escola que queremos? Qual a escola possível?

Após debates em pequenos grupos deveríamos apresentar nossas conclusões. Já estávamos finalizando nosso texto onde defendíamos a democratização do acesso à educação, pois somente através dela haveria a desejada transformação social, quando um secretário de um pequeno município interrompeu os trabalhos, argumentando ser contrário a essa ideia, pois esse era um posicionamento ideológico "de esquerda".

Lembrei-me desse fato ao refletir sobre a inesperada necessidade da utilização das aulas remotas por causa do isolamento social. Pode-se dizer que nós, professores, "aprendemos com o susto", mas descobrimos que uma outra escola é possível. Para que ela seja uma realidade, faz-se necessária a inclusão digital efetiva, como instrumento de comunicação e de acesso democrático ao conhecimento. Para tanto, a internet deve ser levada a todos os lares. Que seu acesso seja tão comum como a luz, a água ou o esgoto e possa ser um instrumento para a educação.

Nesse tempo de pandemia e incertezas nasce um consenso entre todos, seja qual for a ideologia política: a necessidade de se construir uma nova sociedade. Que os governantes reconheçam a importância da educação nessa mudança e deixem que uma nova escola seja reinventada pelos professores. Com sua resiliência eles já provaram ser capazes de assumirem essa tarefa na busca de um mundo melhor.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

PLURAL: os textos de Juliana Petermann e Eni Celidonio Anterior

PLURAL: os textos de Juliana Petermann e Eni Celidonio

O que cabe num abraço Próximo

O que cabe num abraço

Colunistas do Impresso