data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)
São 33 anos que Deogênio Gregório da Silva Azambuja, 61 anos, e Cleonir Terezinha Azambuja, 58, estão casados. Os meses de agosto e setembro de 2020, contudo, foram os de maior dificuldade.
Desde 20 de agosto, Cleonir esteve no Hospital Alcides Brum. Para ela, foram 34 dias entre leitos clínico e semi-intensivo (em UTI, mas sem intubação). A situação foi mais complicada para Deogênio. Ele ficou desde 24 de agosto também no Hospital Alcides Brum. Foram 39 dias até a alta. Ele chegou a ser entubado por 14 dias em leito de UTI.
- Eu fiquei 14 dias, mas parecia que tinha sido só um. Eu acordei e perguntei para a enfermeira "eu cheguei ontem?". Aí ela falou que fazia 14 dias. Depois que comecei a melhorar, mas ainda estou sem força. Não é brincadeira, é muito horrível. A população tem que se cuidar - conta.
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Cleonir é funcionária pública do Estado. Ela trabalha como merendeira no Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac e, portanto, está afastada das atividades presenciais desde a suspensão das aulas. Ela fala que, no hospital, via ex-alunos como profissionais da saúde, mas todos que a atenderam desempenharam um papel além da profissão.
- Todo o quadro de enfermagem, médicos, manutenção, nutrição? todo mundo do hospital foi outra família. Eu fiquei 34 dias sem ver ninguém da minha família, só tinha eles. E eles foram uma grande família que eu encontrei lá - agradece.
Ela pôde ir para casa em 23 de setembro, mas sem o marido, que seguiu no hospital. Era quase a virada para este sábado, quando Deogênio teve alta. Ele deixou o Alcides Brum às 23h de 2 de outubro, última sexta-feira.
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Ao chegar em casa, no Bairro Presidente João Goulart, o motorista aposentado recebeu os cuidados de sua esposa recém recuperada e de uma irmã. O abraço da família não poderia ser físico, mas ele sentiu de outras formas. Na parede da sala de casa, balões de coração carregavam mensagens como "lutador" e "super herói".
- Todos rezando, acendendo vela, fazendo oração. Olha, é gratificante demais. Ter esse carinho é que faz ver como o ser humano vale. Não adianta ter dinheiro, nada? todos valem a mesma coisa. Não é fácil, mas eu estou feliz com o pessoal que veio me acolher com tanta dedicação. Fico bem feliz, isso que me dá forças para reagir mais - diz, em meio a lágrimas, Deugênio.
Mesmo assim, os familiares encontraram ainda outra forma de estar presente. No sábado, a Rua João Lenz, que já não é muito larga, ficou ainda menor. Cinco carros chegaram em frente ao número 160. Familiares e amigos buzinavam para celebrar o retorno do casal para casa. Os cachorros estranharam o barulho, mas não há como dizer que o latido também não tenha sido em comemoração pela recuperação dos dois.
*Colaborou Leonardo Catto