Valderez Oliveira: tempo de templos

Redação do Diário

Valderez OliveiraProfessora estadual inativa e ex-servidora do Judiciário

Minha geração e grande parte da recente foi educada em escola pública ou particular de cunho religioso. Não é novidade. O catolicismo e as instituições geridas por padres ou freiras dominaram o que se tinha de melhor em termos de educação completa por muitas décadas e talvez ainda estejam no topo. Pode-se dizer que fomos doutrinados na fé cristã. Particularmente, a experiência de vida e outras estradas por aí afora, as incursões nos arredores de outras crenças e as incontáveis leituras e análises ,fizeram com que muitos deixassem de lado os preceitos e a fundamentação recebida. Num processo não muito longo, alguns dogmas e a própria confrontação da realidade contribuíram para isso, sem contar os avanços da ciência e a descoberta de algumas leis incompatíveis com a liturgia e a doutrina. Ninguém questiona a perda de fiéis da Igreja Católica . Ela ocorreu e continua ocorrendo a olhos vistos e a hegemonia de outros tempos deixou de existir. Resta observar ao redor e comparar o número de templos religiosos, grande parte evangélicos, erigidos no corpo das cidades. Abundam em rapidez de montagem, fazem a alegria de locadores de amplos e pequenos espaços e, à medida que crescem, mergulham na crítica e desdém de inúmeros observadores externos. Passam a ideia de locais de exploração da ignorância alheia, com a capitania de pastores e dirigentes mal intencionados, prontos para o enriquecimento à custaúda ingenuidade dos crentes. Isso é o que se ouve. E , na maioria das vezes, fala quem está do lado de fora.

Não sou simpática a certo tipo de culto, especialmente aqueles de espetáculo, onde todos se defendem de um demônio imaginário e nele acreditam como um ser do mal em oposto a outro ser do bem. Para completar o maniqueísmo, essas duas forças seriam responsáveis por tudo que acontece de benéfico ou maléfico em nossas vidas. Render homenagens a um nos garante o livramento do outro e parece ser esse o objetivo principal, com a garantia do dízimo. O primitivismo e os resquícios infantis, presentes na maioria desinformada e quase ingênua na interpretação dos fatos da vida, se presta ao preenchimento das cadeiras. E a teatralidade ? E o desempenho de palco ? E o domínio de microfone ? Quem assiste fica boquiaberto e se convence.

Longe de condenação ou de jogar pedras, o fato é que as igrejas de outras linhas, secundárias ou contrárias ao catolicismo estão em todos os lugares e expandindo a olhos vistos. Num país de liberdade religiosa, felizmente, nada em contrário. Surpreende-nos, todavia, a facilidade com que têm somado adeptos e mais admirável ainda, pessoas de certo nível intelectual, conhecimento e educação. A despeito de algumas ilogicidades que não se entendem como possam ser aceitas.

Enfim, em tempos em que a autoridade anda pra lá de desgastada e se defende que cada um faça fazer valer a voz de suas pulsões sem freios, com o nome de liberdade, e quando se obliquam regras ou normas e estas deixam de ter valor, o vácuo necessita ser preenchido. A natureza humana clama. É do seu feitio. E o freio vem das igrejas, justamente delas.

Dependentes químicos, desocupados, desencantados, marginais e sofredores, estranhamente, têm alcançado alívio e cura. Não estou criando fatos, é só conferir e observar. Se funcionou o poder de Deus ou o medo do Diabo, só eles sabem.

De qualquer modo, já ouvi por aí que os fins justificam os meios.

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