Valdo BarcelosProfessor e escritor-UFSM
As crianças são forasteiros recém-chegados nesse mundo e não têm nenhuma responsabilidade pelo que nele encontram. Delas, nada pode ser exigido nem cobrado. Delas devemos estar à disposição. Se prestarmos atenção veremos que ocorre exatamente o contrário. São as crianças que estão à disposição dos adultos. Mas até quando os pais ou responsáveis devem estar à disposição das crianças? Até o momento que elas precisarem.
Vamos a uma obviedade: todas as crianças são crianças. Tão simples isso que parece redundante, mas não é. Vamos a um exemplo. É muito comum nos preocuparmos com as crianças de nossas relações familiares, de amizades, etc. Tanto isso é verdade que nos chocamos, nos solidarizamos quando alguma criança de nossas relações sofre alguma violência, adoece ou, tristemente, vem a falecer. Não há nada de errado nisso. Errado é não nos chocarmos, não nos solidarizarmos, quando o sofrimento é de uma criança que não faz parte de nosso círculo de relações. Repito: todas as crianças são crianças, mesmo que sejam indianas, africanas, francesas, negras; canadenses, mongóis, brasileiras, colombianas, cubanas, pobres, russas e ucranianas. Sim, as crianças ucranianas são crianças.
Essas que estão sendo mortas por militares russos (as) dentro de suas casas, nas ruas, nos hospitais, nas praças. Crianças que tiveram suas escolas destruídas por morteiros, por mísseis de soldados (as) russos (as) que também são pais e mães. Sim, mulheres soldados podem ser tão mortíferas quando homens soldados. Eles (as) não matam porque são homens ou porque são mulheres. Matam porque são seres humanos que tem como profissão matar. São soldados (as). Essa é sua profissão. Matam porque são seres humanos que optaram por uma cultura patriarcal de dominação, de competição, de negação do outro. Matam porque são seres humanos que optaram pela cultura patriarcal. É tão simples. Chega a doer. E dói. Pelo menos em mim.
Dói ver o ser humano em que nos transformamos. Alguém tem uma explicação para isso? Eu tenho, e ela é bem simples. Vamos passar uma borracha em todas as teorias e filosofias da educação que até hoje nos ensinaram e que nos trouxeram até aqui. Quem estiver satisfeito que continue fazendo o que sempre fez. Eu não estou. Comecemos trocando todas essas teorias educacionais pelo substantivo amor. Todo substantivo carrega consigo um verbo. O substantivo amor carrega o verbo amar. Tem mais: não custa nada, não tem nacionalidade nem foi patenteado. O amor é universal e o verbo amar também. Nem tudo está perdido. Alguns voluntários (as) recebem as crianças refugiadas ucranianas com uma boneca para brincarem. Isso é amor.
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