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Relatos da Kiss: médico conta como foi viver o pior plantão da carreira

Relatos da Kiss: médico conta como foi viver o pior plantão da carreira

Foto: Marcelo Oliveira (Diário)

Desde a tragédia na boate Kiss, os santa-marienses guardam memórias que nunca gostariam de ter vivenciado. Pais, mães, amigos das vítimas, assim como sobreviventes e pessoas que trabalharam na noite do dia 27 de janeiro de 2013 ainda sofrem com a dor e a lembrança do incêndio, que, para muitos, ainda não teve fim.

A partir desta segunda-feira, o Diário traz relato de pessoas que fizeram parte da tragédia da boate Kiss. O primeiro depoimento é do médico Pedro Copetti. Atualmente, ele atua em clínica geral com foco na área de endoscopia e é diretor clínico do Hospital da Unimed.

Em janeiro de 2013, Copetti fazia parte da equipe plantonista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e do Pronto-Socorro do Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo. Ele conta que, durante o dia, o plantão havia sido atipicamente calmo, clima que foi quebrado com o chamado na madrugada.

– Inicialmente, saía muita fumaça pela porta da boate e, apesar de não conseguirmos ver o fogo, a gente viu que não era um incêndio qualquer. Também já tinha muita gente saindo de forma desordenada na nossa chegada. Com o decorrer do tempo, começou a cair a ficha que tinha muita gente lá dentro e lá fora. Foi difícil organizar um fluxo racional de atendimento e colocar em prática questões de atendimento pré-hospitalar – relata o médico, que integrou a primeira equipe médica a chegar na boate.

As vítimas, então, começaram a ser encaminhadas para o hospital. O cirurgião relata que a viagem curta, pareceu longa, devido à ansiedade dentro da ambulância.

No caminho, Copetti entrou em contato com o médico plantonista para falar sobre a gravidade da vítima e foi avisado que o pronto-socorro estava lotado. Nesse momento, ele já sabia que aquele seria o pior plantão da vida deles.

Caos

A proporção da tragédia foi sentida na volta à boate. Em meio ao caos no local, a equipe definiu a logística dos atendimentos graves de acordo com o estado das vítimas. 

– Eu me dei conta da situação quando colocaram uma menina supostamente viva dentro da minha ambulância. A vítima estava sem vida, embora com a fisionomia muito viva, com os lábios e a pele com cor. Isto é uma característica de pacientes que vão a óbito com intoxicação por cianeto. Então, eu demorei alguns instantes para perceber que a paciente estava sem vida. Naquele momento eu comecei a entender com o que estávamos lidando, com o potencial de risco daquele incêndio com um monte de gente enclausurada dentro do ambiente fechado, porque a gente ainda não via fogo, só fumaça – conta Copetti.

Madrugada

Com o avanço da madrugada, as corridas ao hospital para levar sobreviventes foram diminuindo cada vez mais. A partir de um determinado momento, Copetti, emocionado, fala que apenas vítimas sem vida eram retiradas da boate.

– Eram pacientes retirados lá de dentro e as pessoas queriam que a gente reanimasse, mas não tinha mais como salvar essas pessoas.

O trabalho do médico, então, foi direcionado aos prontos-socorros. O plantão de Copetti só foi encerrado na tarde de domingo. O descanso durou pouco, pois de noite, o médico retornou ao hospital para atender os sobreviventes. Nos próximos dias, ele continuou ajudando os jovens que estavam na boate:

– Tive a oportunidade de fazer o primeiro transporte de um paciente com ventilação mecânica para o Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre, com o helicóptero da base aérea.

Por fim, Copetti relembrou o empenho da equipe médica de Santa Maria para atender o grande número de vítimas e sobreviventes. Emocionado, ele finaliza fazendo um apelo.

– É triste lembrar de uma tragédia tão grande. Santa Maria tem que seguir em frente, mas não pode esquecer nunca do incêndio, porque isso vai ficar na história da cidade para sempre.

*Laura Gomes

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