Diógenes ChavesPsicólogo clínico
Quando você vai receber uma visita na sua casa, é natural oferecer a ela um chimarrão. Mas, nesta hora, o que preocupa mais você: a beleza da cuia ou o sabor do chimarrão? Pergunta óbvia, não é? É claro que é o sabor do chimarrão, porque é ele que vai acolher o outro, aproximá-lo de você, fazê-lo sentir-se bem ao seu lado e ficar com gostinho de quero mais. No entanto, será que usamos esta mesma lógica nos relacionamentos?
Ângela, salivando por um bom chimarrão, liga para a sua amiga Flávia e a convida para vir até a sua casa para conversarem, colocarem as fofocas em dia. Flávia aceita, porém Ângela já adianta: “Flávia, olha só, eu não tenho os ingredientes pro chimarrão, eu não sei fazer, na verdade, nunca me interessei, apesar de gostar muito de chimarrão. O que eu tenho são três cuias lindas que comprei, sempre admirei as cuias. Se você quiser tomar um chimarrão aqui, traga a erva e a bomba que água e cuia eu tenho, e, claro, você terá que fazer aquele chimarrão que só você sabe”. Flávia topa e passa a tarde com Ângela tomando um delicioso mate. No outro dia, bem cedo, Ângela acorda salivando pelo chimarrão. E agora? Chamar Flávia ou aprender a fazer o seu próprio chimarrão?
Assim se configuram inúmeros relacionamentos que, por dependência afetiva e emocional, adoecem, não dão certo, tornam-se problema na vida de cada um. Muitas pessoas entram em um relacionamento motivadas por faltas, por necessidades de preenchimento afetivo, às vezes, quase que patológico e não se dão conta. Buscam no outro aquilo que deveriam dar a si mesmos, porém nunca aprenderam a se amar o suficiente (não aprenderam e nunca tentaram fazer o próprio chimarrão).
Delegam essa função ao outro (a alguém que faça o seu chimarrão preferido). É mais fácil ter alguém pronto a nos dar acolhimento, carinho, atenção e amor do que desenvolvermos estas capacidades dentro de nós e não precisar depender tanto de alguém. Depositamos nosso bem-estar e a nossa felicidade no outro, assim como Ângela depositara em Flávia a sua possibilidade de tomar um bom chimarrão. Se Ângela aprendesse a fazer o seu próprio chimarrão, chamaria Flávia para passar a tarde com ela, não pelo chimarrão de Flávia, mas pelo simples prazer de estar ao lado da amiga e poder oferecer a ela algo bom de si mesma.
Então, quem é você na relação? É aquele que, sozinho ou sozinha, não consegue juntar os ingredientes para fazer um bom “chimarrão” e oferecer a quem está ao seu lado? Ou é ao contrário? Você já aprendeu a fazer o seu próprio chimarrão para que o outro possa se alegrar com aquilo que sorve de você? Que chimarrão você tem oferecido para quem escolheu estar ao seu lado?
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