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OPINIÃO: O projeto de nação foi abortado pela elite

Gilson Piber

Busco, inicialmente, apresentar um conceito de Nação. Bobbio, Matteuci e Pasquino (2004, p.798) salientam que a análise histórica do termo Nação permite perceber o verdadeiro paradoxo que a palavra encerra e consideram o fato de que, apesar de a palavra apresentar conteúdo emocional forte, seu conteúdo semântico ainda é confuso e incerto no dicionário político. Os mesmos autores, ao tratarem da Nação, afirmam ser ela uma reunião de pessoas ligadas por laços naturais e eternos “ou pelo menos existentes ad immemorabili” (para tempos imemoriais). Para Maluf (2003, p. 16), a Nação é anterior ao Estado, é “a substância humana do Estado”. Na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789, está claramente disposto que a soberania do Estado reside na Nação. Dessa forma, nenhum poder político poderia ser legítimo se não estivesse embasado na autoridade que emanava da Nação.

Opinião Diário de Santa Maria
Foto: Arte DSM

Dito isso, ouso afirmar que o sistema em vigor da Nação brasileira é tocado por uma elite conservadora, escravocrata e reacionária, que vira a cara para a inclusão social da população mais pobre. Esta elite vai contra o que qualquer país de primeiro mundo fez para incluir sua população mais necessitada, inclusive os Estados Unidos. Mas tal processo é algo que merece ser profundamente estudado. E muito passa pelas próprias ações do Tio Sam em terras brasileiras, com respaldo e aval da classe dominante. Basta ir numa biblioteca, folhear livros ou acessar a Internet, sempre com olhos atentos e críticos.

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O fato é que o projeto de Nação brasileira foi abortado por motivos escusos e para garantir a dominação da elite, nos quais muitos cidadãos já conhecem de outros carnavais e Copas do Mundo. Abrir a porta da senzala à maioria dos habitantes não interessa ao atual governo central. Aliás, quanto mais ignorantes o país possuir, melhor aos interesses do grupo mandatário para controlar e seguir o modelo de dominação.

Na atualidade, o Brasil voltou a ficar de joelhos ao bloco de países desenvolvidos e virou, lamentavelmente, uma terra de trambiques e trambiqueiros de gravata e até de toga nas mais variadas esferas. Um governo eleito pelo voto democrático foi tirado do poder pela mesma elite, que golpeia o presente e o futuro da Nação, e entrega o patrimônio público em liquidação. A quem interessa o estado fraco e mínimo? A quem tem capital em demasia e influencia os poderosos de plantão. Aos menos abastados, restam choramingos, impostos elevados e ausência de educação, saúde e segurança de qualidade. Quem pode pagar, paga. Quem não pode, corre atrás de vagas para os filhos em escolas caindo aos pedaços e educadores brutalmente desvalorizados, morre nas filas de hospitais ou aguarda leitos em macas nos corredores das unidades, além de correr o risco de ser assaltado ou atingido por balas perdidas em ruas esburacadas e escuras.

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Enquanto isso, como canta Chico Buarque em As Caravanas, “Sol, a culpa deve ser do sol. Que bate na moleira, o sol. Que estoura as veias, o suor. Que embaça os olhos e a razão. Tem que bater, tem que matar, engrossa a gritaria. Filha do medo, a raiva é mãe da covardia. Ou doido sou eu que escuto vozes. Não há gente tão insana. Nem caravana do Arará. Não há, não há”.

O Jardim de Alá da elite brasileira segue florido, belo e requintado. Mal sabe ela, por agir com prepotência e arrogância, que a panela de pressão da senzala está prestes a explodir. E quando isso ocorrer, novamente, a esperança há de vencer o medo e os arquitetos do golpismo. 


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