"Nós nunca atrasamos salários e não gostaríamos que fosse dessa vez", afirma presidente da ATU sobre instabilidade financeira no setor

Foto: Rian Lacerda (Diário)

A Justiça de Santa Maria prorrogou por mais 90 dias os contratos do transporte coletivo urbano do município. A decisão passa a valer a partir da próxima segunda-feira (22) e atende a um pedido da prefeitura municipal, em razão do andamento do processo de licitação do sistema. A medida garante a continuidade do serviço enquanto os trâmites administrativos seguem em curso, mas não resolve o impasse financeiro enfrentado pelas empresas do setor, que correm o risco de atrasar o pagamento do 13º salário dos funcionários, pois a prefeitura deve R$ 15 milhões relativos ao subsídio.

+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp

Para o presidente da Associação dos Transportadores Urbanos (ATU), Luiz Fernando Maffini, a prorrogação tem caráter estritamente administrativo e judicial e não atinge o principal problema do transporte coletivo na cidade, que é o desequilíbrio econômico-financeiro.

– A prorrogação é uma questão administrativa e judicial. O foco não pode se desviar da questão econômica. As empresas têm um crédito a receber do município e precisam desses recursos para honrar compromissos como salários, encargos trabalhistas e previdenciários – afirmou.


Reunião

Foto: Rian Lacerda (Diário)

A decisão judicial ocorre em um momento de instabilidade no setor e antecede uma reunião considerada decisiva, realizada nesta quinta-feira (18), no Ministério do Trabalho. O encontro reúniu representantes das empresas de transporte coletivo, do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários e do Poder Executivo municipal, com o objetivo de discutir o risco de paralisação do sistema.

A reunião foi solicitada pelo sindicato dos trabalhadores diante de informações sobre dificuldades das empresas em cumprir obrigações trabalhistas, incluindo salários, encargos e o pagamento do 13º salário. Segundo Maffini, o sindicato tem se mostrado irredutível quanto à possibilidade de postergação desses pagamentos, o que aumenta a tensão nas negociações.

A expectativa é sair dessa reunião com uma alternativa. Se isso não ocorrer, existe, sim, um risco real de colapso nos próximos dias – declarou.

A primeira parcela do 13º salário foi paga pelas empresas dentro do prazo legal, no dia 30 de novembro. Já a segunda parcela deveria ser depositada até o dia 20 de dezembro, conforme prevê a legislação trabalhista. O sindicato dos trabalhadores afirma que pretende aguardar essa data antes de adotar qualquer medida mais contundente.

Um documento divulgado pelas empresas tornou pública a possibilidade de não pagamento da segunda parcela do benefício, em razão da falta de repasse do subsídio municipal. De acordo com Rogério Costa, representante do sindicato dos motoristas e cobradores, a categoria aguarda o encerramento do prazo legal para avaliar os próximos encaminhamentos.


"Nós nunca atrasamos salários e não gostaríamos que fosse dessa vez"

As empresas atribuem a crise financeira à falta de repasses do município referentes à diferença entre a tarifa técnica do transporte coletivo e a tarifa pública cobrada dos usuários. A tarifa técnica foi calculada no início do ano em R$ 7,65, enquanto a tarifa máxima ao usuário foi fixada em R$ 6,50, com descontos adicionais para estudantes, vale-transporte e integrações.

Conforme decreto municipal e a Lei nº 6.970, aprovada em 31 de dezembro de 2024, a prefeitura se comprometeu a aportar mensalmente a diferença entre os dois valores. No entanto, segundo a Associação dos Transportadores Urbanos (ATU), houve apenas um repasse parcial, de cerca de R$ 4 milhões, realizado entre abril e maio, sem novos pagamentos desde então.

O município se comprometeu, por decreto e por lei, a aportar mensalmente essa diferença. Houve um repasse e depois disso não houve mais pagamentos. Isso caracteriza inadimplência – disse Maffini.

A falta desses recursos compromete o fluxo de caixa das empresas, especialmente em um período de maior demanda financeira, com vencimento de encargos trabalhistas e previdenciários. Uma das principais preocupações do setor é o pagamento dos salários dos funcionários. Segundo Maffini, atrasos nunca fizeram parte da rotina das empresas de transporte em Santa Maria.

Nós nunca atrasamos salários e não gostaríamos que fosse dessa vez. É lamentável chegar a essa situação – afirmou.

Mesmo com a prorrogação dos contratos, as empresas seguem obrigadas, por decisão judicial, a manter a operação do sistema, o que, conforme a ATU, agrava ainda mais o cenário financeiro.

Além da questão dos repasses, o setor aguarda uma resposta do Poder Executivo municipal ao pedido de redução de 35% das linhas de ônibus, encaminhado anteriormente à Prefeitura e ainda em análise.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

POR

Vitória Sarturi

Anterior

"Nós nunca atrasamos salários e não gostaríamos que fosse dessa vez", afirma presidente da ATU sobre instabilidade financeira no setor

Bombeiros localizam corpo de um dos pescadores desaparecidos no Rio Jacuí Próximo

Bombeiros localizam corpo de um dos pescadores desaparecidos no Rio Jacuí

Geral