Artigo

OPINIÃO: Nossa cultura

Anny Desconzi

O povo brasileiro, desde a chegada de Pedro Álvares Cabral, sofre invasão cultural que lhe impôs e impõe diferentes costumes, tradições e conhecimentos. Inicialmente, pelo domínio da terra, pela religião e, hoje, avança pelo domínio da linguagem e por costumes estrangeiros. 

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Atualmente, a invasão cultural mais em evidência está no quesito linguístico, que vem do idioma inglês, mais exatamente a forma falada nos Estados Unidos, decorrente da avalanche de produtos industrializados, filmes, músicas, etc, que nos faz “aceitar” o modo de vida americano, sem questionar sua necessidade, sua importância e seus efeitos. Não se trata de uma crítica pura e simples da influência do inglês em nossa vida, mas da necessidade da reflexão acerca da forma passiva como aceitamos o que vem de fora, sem questionar ou até mesmo recriar. 

Sabemos que, no momento atual, é impossível bloquear a entrada da influência americana em nosso cotidiano, porém, é preciso refrear o que diminui nossa cultura, como, por exemplo, a entrada maciça de músicas estrangeiras em ambientes de baixo conhecimento da língua vernácula ou de nenhum entendimento da língua em que a música se apresenta. Por outro lado, a cultura estrangeira pode ter uma influência saudável onde os “nativos” conhecem e valorizam a cultura local, além de entenderem o sentido daquilo que recebem de fora. Devemos discutir e definir os limites entre a influência e a invasão, para que até mesmo o ensino da língua inglesa em nossas escolas, hoje obrigatória no ensino básico, assuma, verdadeiramente, um papel contextualizado na reflexão sobre nossa identidade cultural e valorização da influência (não da invasão).

A cultura gaúcha tem várias influências: dos indígenas, negros, espanhóis, portugueses, italianos e alemães, que a tornaram uma das mais lindas e admiradas culturas do mundo, tanto na dança, música e costumes. O povo gaúcho, para muitos, é diferenciado do resto do Brasil, pelo seu histórico de luta para defender suas terras e suas tradições. A Revolução Farroupilha é o maior exemplo disso, de revolta, virou Guerra dos Farrapos, que durou 10 anos, a mais longa das revoluções que já aconteceram no Brasil, mesmo tendo um arsenal bélico menor do que o governo imperial.

Por ser um povo guerreiro, o amor pela terra e às tradições acabam por transformar a cultura gaúcha num sentimento tão forte que nasce até em pessoas que não são daqui do Rio Grande. A cultura gaúcha e o orgulho de ser gaúcho, passados de pai para filho através de hábitos simples, como tomar chimarrão, cantar o hino rio-grandense com mais paixão do que o hino nacional, vestir bombacha, bota, chapéu e lenço, ir num rodeio crioulo ver tiro de laço, andar a cavalo, comer churrasco, mantêm a tradição gaúcha mais viva do que nunca.

Por isso, devemos combater qualquer forma de invasão cultural que possa afetar nossa identidade, deixando para trás uma inestimável riqueza de tradições de nossos antepassados que compõem nossa cultura original, apagando uma página da nossa história. Contudo, o combate não deve vir da guerra, das armas, mas da reflexão e de discussões sobre as diferentes culturas e suas influências, tornando o lugar em que vivemos um ambiente propício ao florescimento de atitudes que promovam a igualdade, a liberdade de expressão e de manifestação cultural, sem jamais esquecer do que diz o nosso hino: “...não basta para ser livre, ser forte, aguerrido e bravo, povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.


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